aqui na lua
segunda-feira, novembro 03, 2003
  As segundas feiras sabem sempre o caminho de regresso.
Depois de um fim de semana nefasto e trezentos mil e quinhentos "ZÁS!" repetidos ininterruptamente por vários polí­ticos, comentadores e até comendadores(!) com um gozo que só tem reflexo naqueles primeiros anos de escola em que repetir "cocó" e "xixi" dava lugar a um nervoso miudinho e satisfação impúdicos... As primeiras palavras censuradas... Bom, como eu dizia, depois deste desfile de "ZÁS!" abençoados com a chuva que já vai sendo mais leve, volto à  Lua apaziaguadora onde o lugar dos palavrões já está garantido constitucionalmente há muito tempo.

Olhando para trás e considerando que dois dias podem ser uma verdadeira eternidade, relembro alguns momentos do fim-de-semana acabado há umas horas e já tão distante.
No sábado à  noite fui ao Chapitô ver o Tartufo com a actuação do Zé "das Barbas" Garcia, a Letí­cia, o Miguel Melo e a Margarida. Esperava mais do Moet... fiquei com uma ligeira sensação de abandalhamento, desleixo, talvez.
Mas o humor inconfundí­vel e as improvisações, tudo isto banhado de insólito, resultam sempre numa boa escapadela até ao absurdo e a uma gargalhada fácil... tão fácil! Portanto, foi bom.

Depois, o mundo desabou como consequência daquelas verdades incontornáveis que nos devastam por dentro e contra as quais nada podemos. Como a morte, as guerras ou os impostos. Pelo menos aparentemente. Passei a noite destruí­da, desfazendo-me em pequenos nadas e renascendo cheia de uma fé inexplicável logo de seguida. Como se aquela luz ao fim do túnel fosse um sinal divino qualquer. Depois, o pragmatismo alicerçado numa educação pós 25 de Abril, deixa desabar de novo a esperança. Grande herança...

No Domingo acordei envergonhada. Saí­ de casa sózinha para chorar sem pudor. Peguei no carro e andei "praí" às  voltas num raio de 40 Km de Lisboa. Eram 8 da manhã e a marginal estava quase vazia com um ambiente que apetece fotografar.

Junto às margens e nas praias, os pescadores e as gaivotas preguiçam longe das igrejas e dos cafés dos bairros cobertos por aquelas cores que me fazem lembrar Hastings e os "piers" ingleses mas que são inconfudivelmente portuguesas e estão-me pregadas na memória de uma adolescência nublada como o céu que nos envolve. É engraçado como aqui na Lua as realidades se separam tão bem e nos fazem viver experiências tão diferentes assim, de um momento para o outro. Acho que é esta caracterí­stica que me faz estar sempre a redimensionar as coisas até que finalmente lhes consigo dar a importância relativa que têm (pelo menos para mim, que neste caso até sou importante). Talvez a aridez e a Terra vista de longe, tão pequenina, ajudem... Imaginar-me a atirar uma pequena pedrinha e acertar em cheio na cabeça do Bush ou poder ver através dos meus fantásticos binúculos o nosso primeiro ministro sentado na sanita a ler as notí­cias do dia, tão pequenino, lá na sua casinha... faz-me acreditar nas coisas de diferente maneira. Os zun-zuns no espaço apagam-se. E por se apagarem, deixam de ser importantes e quando voltamos passam a ser dados adquiridos. Daqueles sobre os quais já nem pensamos, fazem parte da estrutura em que nos movemos e onde vamos construindo tudo o resto.
Poder-se-á chamar a isto alienação? Não sei, mas prefiro encaixar e seguir, egoístamente, a lançar-me em guerras sem fim e dolorosas. Se as coisas são assim, então deixem-se aprender a viver com elas e e seguir em frente que o tempo urge e o fim está todos os dias mais próximo, pelo menos mais um dia.
Acaba por ser pior ter a presunção de mudar o mundo como se o meu ponto de vista fosse universal ou justo.

Ou, no caso da democracia, como se a opinião da maioria pudesse a todos valer num mundo minado pela comunicação social onde dela dependemos para tecer opiniões.

Não há certezas pois não? O mais fácil no mundo é ter razão. Por isso, fico-me com a minha. À minha dimensão.

Bom, agora que é segunda-feira e nos diminuimos à  nossa condição, vamos lá tentar compreender este mundo numa jornada filosófica muito ingrata. Quase tão ingrata como a hipotética benção de estarmos vivos.
 
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