aqui na lua
quinta-feira, novembro 27, 2003
 


Tolstoi, Alexis e Niamh Sharke
Livros Horizonte

€ 14,19

Há coisas que vale a pena comprar quando se têm crianças entre os 3 e os 6 anos.
 
terça-feira, novembro 25, 2003
  Natal
"Todos os dias são dias de Natal"

Não é verdade.

Todos os dias são bons dias para se reflectir e practicar a solidariedade.

O Natal há muito que deixou de ser isso para mim e para a minha família. Não é cristão nem religioso. É uma tradição, uma festa tradicional que todos os anos respeitamos com o rigor de quem é fiel à sua cultura e se esforça por mantê-la viva na memória dos que estão a chegar todos os anos.

É fase de reprodução na minha famí­lia. A minha geração está a parir anualmente e a nova geração já se compara em número à anterior e aumenta a olhos visto aos dois de cada vez em alguns casos.

Por isso, todos os anos por esta altura começam as excursões de carro às tantas da noite, demasiado tarde para os olhitos cansados que brilham no banco de trás no fim de um longo dia de aventuras e descobertas, às ruas antigas e mais comerciais de Lisboa.

Por esta altura também, fazemos greve aos centros comerciais já pouco frequentados em off-season, tirando umas idas tardias ao hipermercado quando até o leite começa a faltar em casa.

Dentro de poucos dias abre-se a primeira janela do calendário de Natal criteriosamente escolhido pelas mãozinhas inspeccionadoras e exigentes dos mais pequenos. Fazem-se enfeites de Natal e recuperam-se os antigos das caixas arrumadas há pouco menos de um ano na prateleira de cima do armário. Decora-se a àrvore de Natal. Compra-se barro para fazer o novo presépio e percorre-se a Serra de Sintra entre bosques em busca de musgo bom para o ostentar. Sempre a pé porque os animais não gostam de carros e não se pode perder a oportunidade de ver pela primeira vez o lobo que nunca apareceu.
Percorrem-se os caminhos gastronómicos da confecção de doces de abóbora, marmelo, maçã e laranja. Do pão da avó Benvinda e das broas cuja receita secreta se mantêm na família há muitas gerações. Cuscurões, sonhos, filhós, rabanadas, chás de ervas e muita erva doce.

A parte mais importante do Natal é mesmo o mês que o antecede.

A véspera e o dia de Natal na minha famí­lia conjugam uma série de factores que fazem desta família um exemplo perfeito dos tempos modernos. A véspera em casa da avó materna, depois para casa da avó paterna e acaba na casa dos pais do padrasto, para no dia seguinte a excursão passar pelos avós de ambos os lados e terminar numa montanha de presente amontoados à porta de minha casa onde vivemos como família nuclear.
Os meus filhos têm muitas famí­lias. As minhas, as dos pais, as dos pais dos irmãos, as das mães dos outros irmãos, as dos padrastos, as das madrastas e todas as que se foram separando e dividindo ao logo dos tempos. Por isso, de alguma maneira, a tradição do Natal une-me a eles mais do que o Natal própriamente dito.

Não é um Inferno, sabemos vivê-lo bem. Mas todo o mês que o antecede é a razão da sua existência para nós. Estamos mais próximos uns dos outros porque fazemos coisas juntos e passamos mais tempo uns com os outros.
Como antigamente, sem pressas porque cada coisa demora o seu tempo e merece respeito e dedicação. E esse tempo é importante viver, saborear e partilhar.

Por isso o Natal moderno e vazio de que toda a gente fala fica fora das nossas almas ocupadas com as coisas quentes e antigas da nossa história convictas da importância de cada gesto, de cada ingrediente e de cada significado.

Bom Dezembro a todos!
 
quinta-feira, novembro 20, 2003
  Sweet Nicole
Negro, intenso, revoltante. Características e consequências de uma história.

Dogville é um daqueles filmes que não esquecerei. É uma tela violenta, soturna, reflexo espelhado de uma sociedade invisível por vezes e tão óbvia quando ninguém a olha. Personagens consistentes, excelentes actores. Uma peça de teatro filmada que nos liberta do superficial, nos faz sentir com mais intensidade a história e permite ao inconsciente viajar por paisagens imaginárias.
Intrigas, humilhações, maldade pura, masoquismo: esconjúrias libertas em confissões pelos mais castos religiosos que não são mais do que relutantes portadores do inferno. Em segredo e cumplicidade que é como se quer. Ali, no fim do mundo. Onde a estrada acaba e a montanha começa.

Mas podia ser em qualquer lado. Em qualquer pequena aldeia, em qualquer paí­s do mundo ou do fim dele... Quem não reconhece cada um dos personagens? A forma eficiente e acabada de sobrepor argumentos de acordo com o destino da verdade de cada um?

As mãos. Próprias. A justiça do povo. Aqui e agora. Quando a dor não é superada e a frieza se apodera. Quando nos pomos acima do mundo e abatemos sobre os pecadores a pena máxima. A justa. Nossa justiça. Nós que conhecemos as causas e os criminosos melhor que ninguém. Nós, cujo discernimento ultrapassa todas as dúvidas e que temos provas... Vamos aplicar a justiça e beber o poder! Mesmo que seja no fim da estrada, mesmo antes de chegar à montanha. Em DogVille. Porque a maldade é má e nós podemos acabar com ela.

Esta é a perspectiva de todos até que o poder ganha nova forma e se sobrepõe a nós. Aí passamos a ser vítimas. Pobres pecadores vulneráveis.

Lars von Trier não se enganou no retrato. Tudo começa e acaba no mesmo ponto. É assim que os tiranos se substituem e os Impérios nascem. Nem seria preciso sair das próprias fronteiras senão houvesse amor aos filhos da pátria ou ao dinheiro dos outros. Pátria de bandidos justiceiros e xerifes.

God bless America? God bless us all!
 
terça-feira, novembro 18, 2003
  Bebido o Luar
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.


Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.


Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.


Sophia de Mello Breyner Andressen
 
  Comboio
COMBOIO

Aqui (movente ou parada?)
Vou contra a vida que foge
Nos campos que à desfilada
Vão ao invés do que corre.

Que deus me ilude ou me mente?
Porquê na hora fugaz
Eu julgo que vou para a frente
Se tudo avança para trás?

Acaso egressa o tempo
Ao que era antes do mal
Nas árvores que recuam
À floresta inicial?


Natália Correia
 
  Campo
Um frio solarengo e brilhante da geada cobre a manhã. Estou no campo e sinto-me no campo. O verde pintado de azedas, os fios de nuvem baixinhos, Sintra descoberta... Maravilhoso. Daqui vejo uma faixa de mar azul.
Quero acabar aqui os meus dias, daqui a muitos anos.
Quero sentir o nariz frio e trazer as luvas sempre que sair de casa.
Quero beber um chá todas as manhãs no café daqueles que têm cortinas nas janelas, toalhas de pano nas mesas e um sino a avisar quem entra.
Quero enterrar as botas na terra e entrar em casa pela cozinha.
Quero sentir o cheiro da comida misturado com o cheiro da cera.
Quero ficar sem luz de vez em quando.
Quero lembrar o mundo pelos livros e esquecer que o futuro se aproxima.

E quando os meus filhos forem grandes e "a lua tiver rachado e caído" quero que possam ver o que é simples e descomplicado e o que a cabeça dos homens tem de mutante e complexo.

De longe... para não se magoarem.
 
sexta-feira, novembro 14, 2003
  Kepa Junkera
Já agora e, sem querer, a propósito, aqui.
 
  Nada para fazer
Aqui neste sítio a que chamo trabalho não há nada para fazer. Já consumi a Visão de ontem quase toda e transcrevi para aqui algumas coisas. Já estive a jogar ao draga-minas com a Ana no msn e agora estou aqui a ver se o tempo passa e se o fim de semana chega menos devagar.

Como há pouco recordei "O Bando", e deixei uma pergunta no ar, resolvi procurar a resposta. Encontrei-a aqui. Voltem sempre!
 
  Kurt Cobain
"Gosto: das raparigas de olhos invulgares, das drogas, da paixão, da ingenuidade, de assassinar a voracidade, de lançar mal os meus trunfos, da natureza e dos animais, de me armar em superior aos que põem em causa a minha aparência, de ser preconceituoso" "Sei que acabarei por me matar"
Kurt Cobain

Estas afirmações valeram a Courtney Love uma pequena fortuna.
 
  Construção
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Chico Buarque
 
  Sophia
Hoje lembrei-me de um livro da Sophia de Mello Breyner Andresen: "A Viagem". Fui ao site do Instituto Camões e para meu grande espanto, na secção de escritores portugueses, Sophia de Mello Breyner Andresen, o livro não vinha mencionado... enfim! Este livro marcou-se imenso, como aliás todos os que li desta autora. Li-os miúda e dei-os a ler à minha filha que, provavelmente os dará aos seus... Mas este marcou-me mais do que os outros todos. Fala da viagem de um casal pela vida. Uma metáfora difícil e sufocante para uma miúda pequena... queria reler.

Bom, isto vem a propósito de uma exposição que está no CCB:

Das Histórias Nascem Histórias - Uma Exposição em forma de percursos

Não quero perder.


Esta coisa dos percursos faz-me lembrar o espectáculo de comemoração dos 20 anos do "O Bando" na Tapada das Necessidades.
No outro dia, a mexer em papéis velhos tropecei no programa do espectáculo com as definições dos percursos. Que saudades destas produções do "O Bando". Porque é que já ninguém faz teatro assim?

 
  De Pequenino é Que Se Torce o Pepino
Recebi isto hoje por e-mail. Um daqueles que abro logo de manhã porque me foram enviados pelos notívagos durante o meu sono.

CONVERSA ENTRE PAI E FILHO, ANTES DO ADORMECER, NUMA CIDADE
NORTE-AMERICANA


Filho: Paizinho, porque é que tivemos que atacar o Iraque?
Pai: Porque eles tinham armas de destruição em massa, filho.
F: Mas os inspectores não encontraram nenhumas armas de destruição em
massa.
P: Isso é porque os iraquianos as esconderam.
F: E porque é que nós invadimos o Iraque?
P: Bom, as invasões funcionam sempre melhor que as inspecções.
F: Mas depois de os termos invadido, AINDA não encontrámos nenhumas armas,
pois não?
P: Isso é porque as armas estão muito bem escondidas. Mas deixa lá,
haveremos de encontrar alguma coisa, provavelmente antes mesmo das próximas
eleições.
F: Para que é que o Iraque queria todas aquelas armas de destruição em
massa?
P: Para as usar numa guerra, claro.
F: Estou confuso. Se eles tinham todas aquelas armas e planeavam usá-las
numa guerra, então porque é que não usaram nenhuma quando os atacámos?
P: Bem, obviamente não queriam que ninguém soubesse que eles tinham aquelas
armas, por isso eles escolheram morrer aos milhares em vez de se
defenderem.
F: Isso não faz sentido, paizinho. Porque é que eles haveriam de escolher
morrer se tinham todas aquelas armas poderosas para lutar contra nós?
P: É uma cultura diferente. Não é suposto fazer sentido.
F: Não sei o que é que tu achas, paizinho, mas não me parece que eles
tivessem quaisquer daquelas armas que o nosso governo dizia que eles
tinham.
P: Bom, sabes, não interessa se eles tinham ou não aquelas armas.De
qualquer modo nós tínhamos outra boa razão para os invadir.
F: E qual era?
P: Mesmo que o Iraque não tivesse armas de destruição em massa, Saddam
Hussein era um cruel ditador, o que é outra boa razão para invadir outro
país.
F: Porquê? O que é que um ditador cruel faz para que seja correcto invadir
o seu país?
P: Bom, pelo menos uma coisa, ele torturava o seu próprio povo.
F: Assim como fazem na China?
P: Não compares a China com o Iraque. A China é um bom parceiro económico,
onde milhões de pessoas trabalham por salários de miséria, em condições
miseráveis, para tornar as empresas norte-americanas mais ricas.
F: Então, se um país deixa que o seu povo seja explorado para olucro das
empresas americanas, é um bom país, mesmo se esse país tortura o povo?
P: Certo.
F: Porque é que o povo no Iraque era torturado?
P: Por crimes políticos, principalmente, tais como criticar o governo. As
pessoas que criticavam o governo no Iraque eram presas e torturadas.
F: Não é isso exactamente o que acontece na China?
P: Já te disse, a China é diferente.
F: Qual é a diferença entre a China e o Iraque?
P: Bom, pelo menos uma coisa, o Iraque era governado pelo partido Baas
enquanto que a China é comunista.
F: Não me tinhas dito uma vez que os comunistas eram maus?
P: Não; só os comunistas cubanos são maus.
F: Porque é que os comunistas cubanos são maus?
P: Bom, pelo menos uma coisa, as pessoas que criticam o governo emCuba são
presas e torturadas
F: Como no Iraque?
P: Exactamente.
F: E como na China, também?
P: Já te disse, a China é um bom parceiro económico. Cuba, por outro lado,
não é.
F: Porque é que Cuba não é um bom parceiro económico?
P: Bem, é assim, no princípio dos anos 60, o nosso governo fez umas leis
que tornaram ilegal que os norte-americanos tivessem trocas comerciais ou
outros negócios com Cuba, até que eles deixassem de ser comunistas e
começassem a ser capitalistas como nós.
F: Mas se nós acabássemos com essas leis, abríssemos o comércio com Cuba, e
começássemos a fazer negócios com eles, isso não ajudaria os cubanos a
tornarem-se capitalistas?
P: Não te armes em chico-esperto.
F: Eu acho que não sou.
P: Bom, de qualquer modo, também não há liberdade de religião em Cuba.
F: Assim como na China, com o movimento Falun Gong?
P: Já te disse, deixa-te de dizer mal da China. De qualquer maneira, Saddam
Hussein chegou ao poder através de um golpe militar, por isso ele não era
realmente um líder legítimo.
F: O que é um golpe militar, paizinho?
P: É quando um general toma conta do governo de um país pela força, em vez
de eleições livres como nós temos nos Estados Unidos.
F: O líder do Paquistão não chegou ao poder através de um golpe militar?
P: Referes-te ao General Pervez Musharraf? Uhm, ah, sim, foi; mas o
Paquistão é nosso amigo.
F: Como é que o Paquistão é nosso amigo se o seu líder é ilegítimo?
P: Eu nunca disse que Pervez Musharraf era ilegítimo.
F: Não acabaste de dizer que um general que chega ao poder pela força,
derrubando o governo legítimo de uma nação, é um líder ilegítimo?
P: Só Saddam Hussein. Pervez Musharraf é nosso amigo, porque ele nos ajudou
a invadir o Afeganistão.
F: Porque é que nós invadimos o Afeganistão?
P: Por causa do que eles nos fizeram no 11 de Setembro.
F: O que é que o Afeganistão nos fez no 11 de Setembro?
P: Bem, em 11 de Setembro de 2001, dezanove homens, quinze dos quais da
Arábia Saudita, desviaram quatro aviões e lançaram três contra edifícios,
matando mais de 3000 norte-americanos.
F: Então, onde é que o Afeganistão entra nisso tudo?
P: O Afeganistão foi onde esses homens maus foram treinados, sob o regime
opressivo dos Taliban.
F: Os Taliban não são aqueles maus radicais islâmicos que cortam as cabeças
e as mãos das pessoas?
P: Sim, são esses exactamente. Não só cortavam as cabeças e as mãos das
pessoas, como também oprimiam as mulheres
F: Mas o governo de Bush não deu aos Taliban 43 milhões de dólares em Maio
de 2001?
P: Sim, mas esse dinheiro foi uma recompensa porque eles fizeram um bom
trabalho na luta contra as drogas.
F: Na luta contra as drogas?
P: Sim, os Taliban ajudaram muito, para obrigar as pessoas a deixarem de
cultivar papoilas de ópio.
F: Como é que eles fizeram tão bom trabalho?
P: É simples. Se as pessoas fossem apanhadas a cultivar papoilas de ópio,
os Taliban cortavam-lhes as mãos e as cabeças.
F: Então, quando os Taliban cortavam as cabeças e as mãos das pessoas que
cultivavam flores, isso estava certo, mas não se eles cortavam as cabeças e
as mãos por outras razões?
P: Sim. Nós achamos bem se os radicais fundamentalistas islâmicos cortam as
mãos das pessoas por cultivarem flores, mas achamos cruel que eles cortem
as mãos das pessoas por roubar pão.
F: Mas na Arábia Saudita eles não cortam também as mãos e as cabeças das
pessoas?
P: Isso é diferente. O Afeganistão era governado por um patriarcado
tirânico que oprimia as mulheres e as obrigava a usar burqas sempre que
elas estivessem em público, e as que não cumprissem eram condenadas à morte
por apedrejamento.
F: Mas as mulheres na Arábia Saudita não têm também que usar burqas em
público?
P: Não, as mulheres sauditas simplesmente usam uma vestimenta islâmica
tradicional.
F: Qual é a diferença?
P: A vestimenta islâmica tradicional usada pelas mulheres sauditas é uma
roupa modesta mas em moda que cobre todo o corpo da mulher excepto os olhos
e os dedos. A burqa das afegãs, por outro lado, é um instrumento maligno da
opressão patriarcal que cobre todo o corpo da mulher excepto os olhos e os
dedos.
F: Parece-me a mesma coisa com um nome diferente.
P: Bom, não vais agora comparar o Afeganistão com a Arábia Saudita. Os
sauditas são nossos amigos.
F: Mas parece-me que disseste que 15 dos 19 piratas do ar do 11 de Setembro
eram da Arábia Saudita.
P: Sim, mas foram treinados no Afeganistão.
F: Quem é que os treinou?
P: Um homem muito mau, chamado Osama bin Laden.
F: Ele era do Afeganistão?
P: Aahh, não, ele era também da Arábia Saudita. Mas era um homem mau, um
homem muito mau.
F: Se bem me lembro, ele já tinha sido nosso amigo.
P: Só quando nós o ajudámos e aos mujahadin a repelir a invasão soviética
do Afeganistão nos anos 80.
F: Quem são os soviéticos? Não era o Império do Mal, comunista, que o
Ronald Reagan falava?
P: Já não há soviéticos. A União Soviética acabou em 1990, ou mais ou
menos, e agora eles têm eleições e capitalismo como nós. Agora chamamo-lhes
russos.
F: Então os soviéticos, quero dizer, os russos, agora são nossos amigos?
P: Bem, não efectivamente. Sabes, eles foram nossos amigos durante uns anos
quando deixaram de ser soviéticos, mas depois decidiram não nos apoiar na
invasão do Iraque, por isso agora estamos aborrecidos com eles. Também
estamos aborrecidos com os franceses e os alemães porque eles também não
nos ajudaram a invadir o Iraque.
F: Então os franceses e os alemães também são maus?
P: Não completamente, mas suficientemente maus para termos mudado o nome
das French Fries (batatas fritas) e das French Toasts para Freedom (batatas
da liberdade) e Freedom Toasts.
F: Nós mudamos sempre os nomes à comida quando outro país não faz o que nós
queremos?
P: Não, isso é só com os nossos amigos. Os inimigos, invadimo-los.
F: Mas o Iraque não foi um dos nossos amigos nos anos 80?
P: Bem, sim. Durante algum tempo.
F: Saddam Hussein não era então o líder do Iraque?
P: Sim, mas nessa altura ele estava em guerra contra o Irão, o que fez dele
nosso amigo, temporariamente.
F: Porque é que isso fez dele nosso amigo?
P: Porque nessa altura o Irão era nosso inimigo.
F: Isso não foi quando ele lançou gás contra os curdos?
P: Sim, mas como ele estava em guerra contra o Irão, nós olhámos para o
lado, para lhe mostrar que éramos seus amigos.
F: Então, quem lutar contra um dos nossos inimigos torna-se automaticamente
nosso amigo?
P: A maior parte das vezes sim.
F: E quando alguém luta contra um dos nossos amigos torna-se
automaticamente nosso inimigo?
P: Às vezes isso é verdade, também. Porém, se as empresas americanas
poderem lucrar vendendo armas a ambos os lados ao mesmo tempo, tanto
melhor.
F: Porquê?
P: Porque a guerra é boa para a economia, o que significa que a guerra é
boa para a América. Além disso, visto que Deus está do lado da América,
quem se opõe à guerra é um ateu, anti-americano, comunista. Percebes agora
porque é que atacámos o Iraque?
F: Acho que sim. Nós atacámos porque era a vontade de Deus, certo?
P: Sim.
F: Mas como é que nós sabíamos que Deus queria que atacássemos o Iraque?
P: Bem, estás a ver, Deus fala pessoalmente com George W. Bush e diz-lhe o
que deve fazer.
F: Então, basicamente, estás a dizer que atacámos o Iraque porque George W.
Bush ouve vozes na cabeça?
P: Sim! Finalmente percebes como o mundo funciona. Agora fecha os olhos,
aconchega-te e dorme. Boa noite.
F: Boa noite, paizinho.

Contra "factos", não há argumentos. E mesmo havendo...
 
quarta-feira, novembro 12, 2003
  Lisboa
Lisboa é linda.
Cada vez gosto mais de estar em Lisboa durante o Outono. Descer a minha rua, caminhar até ao Campo Grande e ver as folhas amarelas das árvores caí­das sobre a relva.
Existe no Campo Grande uma espécie em vias de extinção. Não, não é um animal. Os que lá habitam proliferam em bandos debaixo de terra e no ar. Estou a falar daquelas agulhadas palmeiras que observo desde pequena e que sempre me surpreenderam pela sua capacidade de resistência ao vento e pela altura que atingem. Parece que estas raridades originárias de um qualquer país exótico, estão afinal em vias de extinção no seu habitat natural e aqui, em plena Lisboa, junto a dois dos túneis com mais tráfego de Lisboa e, por conseguinte, poluição, encontraram um ambiente propício à sobrevivência.

Ontem tirei o dia. Tinha coisas para fazer em Lisboa de manhã e acabei por lá ficar. Ainda estava abalada pelo trauma da fome e não me apetecia fazer 40 km de auto-estrada para chegar ao trabalho. A marginal, durante o Verão é uma boa alternativa. Caminhar em direcção ao mar, contemplar o Bugio e as velas dos barcos enche-me a alma. No Inverno os acidentes e as horas intermináveis de filas fazem-me desesperar. Por isso acabo por optar pela auto-estrada.

Com os tons de Outono a invadirem-me as varandas e as janelas de casa acabei por ficar para almoçar. Fui ao Pingo Doce comprar bróculos que cozinhei para comer com uns bifes de frango. Saí­ novamente. Precisava de ir à Junta de Frequesia do Campo Grande para pedir umas informações em relação a um novo projecto e que me plantassem umas árvores nos canteiros em frente ao prédio, uma vez que as que lá estavam caíram durante os vendavais do Inverno passado. Sabia que devia dirigir-me à Junta porque assim me tinham dito os jardineiros da empresa responsável pela manutenção daqueles espaços verdes.
Caminhei pelo Campo Grande em direcção à Junta que fica entre a FCUL e o Museu da Cidade (Palácio Pimenta) onde habitam os pavões suicí­das. Passei pelo Caleidoscópio onde costumava ir ter com o meu pai para almoçar e passar depois a tarde a estudar no gabinete dele no C1, pelo novo café concerto e, nostálgicamente cheguei à porta da Junta.

Entrei para a recepção e dirigi-me à senhora que estava atrás do balcão. Depois de ter dito ao que vinha levei um choque. A primeira resposta da senhora, em bom português e como mandam os bons costumes foi: "isso não é aqui, é com a Câmara". Enchi-me de paciência e tentei explicar pausadamente e no meu melhor português que sabia que era ali que se devia tratar daqueles assuntos e que isso me tinha sido confirmado pela tal empresa. Sem ter de ir consultar nada e com alguns "pois é" e "isto é assim" pelo meio, lá concordou comigo e acabou por redigir o pedido à empresa para que plantassem as tais árvores no canteiro à minha porta. Depois chegou a parte mais difí­cil. Perguntei-lhe se a Junta tinha algum programa de apoio a actividades comunitárias na freguesia e o que seria necessário fazer para solicitar ou ter conhecimento sobre esses programas. A senhora desbobinou um discurso sobre os "velhinhos" que ocupavam a sala ali ao lado, sobre as actividades que se realizam nas escolas primárias da zona e mais um sem fim de "coitadinhos" e "eles precisam de se sentir gente" pelo meio. Mas resposta à minha pergunta... NADA! Nada... É triste ver o poder local assim... Estas instituições, que deveriam estar perto das pessoas e responder às questões relacionadas com a sua área estão cada vez menos ao alcance dos cidadãos. A Junta neste momento não é mais do que aquele sí­tio onde nos dirigimos para pedir o cartão de eleitor, ver as listas de recrutamento e se formos "velhinhos" ou "coitadinhos". E a burocracia mantém-se sustentada numa má-vontade colectiva...

A burocracia é um mal quase virtual. Não tem corpo verdadeiro. Ou pelo menos, aquele que nos salta à vista. A burocracia é manipulada pelas pessoas. Podia ser um meio potenciador da inovação e da concretização se as pessoas tivessem um real interesse em realizar alguma coisa, em marcar a diferença. Mas não têm.

Saí da Junta sentindo uma verdadeira frustração.

Voltei para casa, peguei no carro e fui buscar os miúdos à escola. Já não o fazia há semanas. Fomos para casa e fomos uma famí­lia. Até à hora de deitar. Li mais um capí­tulo de "O Feiticeiro de Oz" à Madalena e a Dorothy está quase a descobrir que o feiticeiro é um charlatão. É uma edição da Ambar do livro de L. Frank Baum com ilustrações de Lisbeth Zwerger. Fantástica. Até eu passei a gostar da história e me libertei da imagem do filme que me minou a imaginação durante tantos anos.
Depois fui-me deitar e dormi. Bem.
 
  Persona Trinity
You are Trinity-
You are Trinity, from "The Matrix."
Strong, beautiful- you epitomize the ultimate
heroine.


What Matrix Persona Are You?
brought to you by Quizilla


Andei à procura de outros blogs colocando títulos que me dizem alguma coisa para ver se esses espaços estão ocupados. Foi assim que encontrei o ginjal e esta sugestão.
Aqui está o meu resultado. Não me considero muito loving e muito menos das "bullets". Resta saber o que isto quer dizer...
 
segunda-feira, novembro 10, 2003
  Agora a sério...
As coisas menos prácticas são sempre as mais complicadas, principalmente para mim. Mas irrita-me ver chafurdar inutilmente em nadas... porque sei que custa, dói, humilha... para nada.

Não acredito no auto-conhecimento pela dor... Não acredito que a alma se eleve pelo sofrimento... Não acredito que haja almas superiores à humilhação.

Então para quê? Será daquela substância maravilhosa cuja carência justifica todos os delí­rios mas em doses homeopáticas para que resulte apenas em depressão?
 
  Admirável Mundo...
Estive a ler outros blogs. É uma forma de enganar a fome (ou o espírito que a sente).

Não sei se deva chegar à conclusão de que o masoquismo é voluntário ou se existe uma casta admirável de eleitos.

Enquanto eu estou aqui a braços com merdas prácticas que me lixam o juízo e outras que não são tão prácticas e que, se calhar por isso mesmo, não me lixam tanto o juízo, vejo para aqui um monte de sofredores profissionais com técnicas altamente sofisticadas de auto-flagelação emocional.

Anda práqui uma gaja a tentar ser feliz (e a querer a paz no mundo... qual miss mundo) e com grandes dificuldades (e fome)...

Agora que me distraí já estou com fome outra vez... acho que vou beber água. Se tivesse dinheiro tornava-me fumadora outra vez.
 
  Hoje não almoço
Tenho fome.
Não tenho dinheiro.
Trabalho a 40 Km de casa.
Não conheço ninguém aqui.

Isto é que é cólidade de vida!
É este o espírito mártir dos "portugueses sem auto-estima"? Onde é que se compra este artigo? Está à venda nas farmácias? Traz comida e seguro de vida incluídos?

Poupem-me!
 
quarta-feira, novembro 05, 2003
  pinxos, Gaudí, ramblas
Tudo aqui ao lado...
Que saudades tenho de Barcelona!
Ou "das Barcelonas"... da minha, da do Tiago, da do Almodóvar, da de Maio, da de Novembro, da dos bares temáticos... da dos pássaros e peixes engaiolados e aquarizados em plena rua, da das flores, da do parque, da outra que é neta... enfim, delas todas.

12 horas de carro, não esquecer de parar em Évora para jantar, tentar pela 5ª vez acertar na saída em Madrid sem me enganar, chegar de manhã.

Uma das imagens cinematográficas mais inesquecíveis é a viagem de comboio de Manuela (Cecilia Roth) e a saída do túnel com Barcelona iluminada ao fundo. A esperança e o futuro unidos num só... "Todo sobre mi madre" de Pedro Almodóvar. Um filme que me marcou muito pela dignidade e realismo dos retratos e pelo humanismo da observação. Extraordinário! 1999 é um ano de ouro para o cinema: "The Straight Story" de David Lynch, "Fight Club" de David Fincher, "eXistenZ" de David Cronenberg, "Matrix" (o primeiro é sempre o melhor) de Andy e Larry Wachowski, "Arlington Road" de Mark Pellington, "Flirt" (nem é o melhor dele) de Hal Hartley, "Notting Hill" de Roger Michell, "Buena Vista Social Club" de Wim Wenders,... e tantos outros de que não gostei tanto e outros que, sem ter visto, negligenciei aqui.
 
  Banhos quentes e torradas
Hoje está tudo na mesma.

O RCP continua melancólico, o tempo continua melancólico e, infelizmente, eu também...
Onde é que está a surpresa? A Revolução? O suicídio do vizinho que pelas piores razões nos dá sentido à vida? O Totoloto???

Xiça!

Há dias que não têm fim e que se colam aos seguintes formando uma longa e pastosa semana.

Isto tinha começado mal no fim de semana, mas normalmente o meu optimismo leva a melhor e prevalece o bom senso que me diz que tudo passa... o problema é que o bom senso é realista e afinal este tudo ainda não passou. Está-me colado à pele, pegajoso! Dizem-me que é a sindrome dos trinta (quem é que disse que eu queria ter trinta...inta...inta...inta???). Eu tenho 20 anos e continuo teimosamente a martelar neste assunto. Quem tem trinta são os gajos das bandas da minha adolescência e as mães dos colegas dos meus filhos. Eu não! (perdoem-me mas eu sofro de um problema de negação) Eu continuo à espera de ser adulta e viver uma vida de adulta. Daquelas a sério. Das que nos impigiram quando éramos putos e das quais fugimos aterradoramente como se porventura nos fossem apanhar! A questão é que essas vidas já não existem, nem estão ali na esquina à nossa espera (eu sei, já espreitei). Por isso é que ninguém me convence de que tenho trinta anos.
Continuo a sentir-me uma miúda desajeitada e inconsequente com muito pouca coisa interessante para dizer. Talvez por isso me refugie aqui, onde nem sei se alguém lê e onde posso dizer as asneiras todas que me apetecer.

Não é engraçado que todos os meus amigos solteiros de trinta anos digam a mesma coisa? Onde está a vida de adulto? Passámos anos a estudar para tirar um curso porque nos disseram que era fundamental para se conseguir ter uma vida, o reconhecimento da sociedade e o amor-próprio de quem acha que sabe muito de alguma coisa. Para termos uma casa e uma família (a outra, a que nos esperava e afinal não está lá). Fomos defraudados!!! Afinal o curso não serve de nada (estamos todos a fazer tudo menos aquilo para que estudámos) e continuamos a ter 20 anos com menos um objectivo, o de acabar o curso para sermos alguma coisa.

Ó vida... que não passas e que te arrastas connosco. Levamos-te às costas, troféu inglório da desconcretização de todos os medos e ilusões!

Passa semana que estou farta de ti! Passa Inverno que não sou assim e sinto falta das planícies áridas e quentes das semanas de Verão!
 
terça-feira, novembro 04, 2003
 
Tejo, Maria, Joana, Sara, Gonçalo, Raul, Ponte, Cais do Ginjal, Gulbenkian, FCSH, Antónia Pusich, Academia, João do Rio, Esmeralda, Colina do Sol, mar de Estrelas, Meco, Guincho, papoila, Penedo, pinheiros, Adraga, Ursa, Milhões, Tiago, OK, Pescadores, barco, suécia, morte, regresso, Lisboa, Quinta, cães, moinho, vida, mais vidas, Évora, música, Devagar, Acção!

Lembrando vagamente a adolescência e um pouco do que ficou atrás das nuvens. É mesmo assim que a relembro... aos retalhos. E nunca vem tudo...
 
segunda-feira, novembro 03, 2003
  As segundas feiras sabem sempre o caminho de regresso.
Depois de um fim de semana nefasto e trezentos mil e quinhentos "ZÁS!" repetidos ininterruptamente por vários polí­ticos, comentadores e até comendadores(!) com um gozo que só tem reflexo naqueles primeiros anos de escola em que repetir "cocó" e "xixi" dava lugar a um nervoso miudinho e satisfação impúdicos... As primeiras palavras censuradas... Bom, como eu dizia, depois deste desfile de "ZÁS!" abençoados com a chuva que já vai sendo mais leve, volto à  Lua apaziaguadora onde o lugar dos palavrões já está garantido constitucionalmente há muito tempo.

Olhando para trás e considerando que dois dias podem ser uma verdadeira eternidade, relembro alguns momentos do fim-de-semana acabado há umas horas e já tão distante.
No sábado à  noite fui ao Chapitô ver o Tartufo com a actuação do Zé "das Barbas" Garcia, a Letí­cia, o Miguel Melo e a Margarida. Esperava mais do Moet... fiquei com uma ligeira sensação de abandalhamento, desleixo, talvez.
Mas o humor inconfundí­vel e as improvisações, tudo isto banhado de insólito, resultam sempre numa boa escapadela até ao absurdo e a uma gargalhada fácil... tão fácil! Portanto, foi bom.

Depois, o mundo desabou como consequência daquelas verdades incontornáveis que nos devastam por dentro e contra as quais nada podemos. Como a morte, as guerras ou os impostos. Pelo menos aparentemente. Passei a noite destruí­da, desfazendo-me em pequenos nadas e renascendo cheia de uma fé inexplicável logo de seguida. Como se aquela luz ao fim do túnel fosse um sinal divino qualquer. Depois, o pragmatismo alicerçado numa educação pós 25 de Abril, deixa desabar de novo a esperança. Grande herança...

No Domingo acordei envergonhada. Saí­ de casa sózinha para chorar sem pudor. Peguei no carro e andei "praí" às  voltas num raio de 40 Km de Lisboa. Eram 8 da manhã e a marginal estava quase vazia com um ambiente que apetece fotografar.

Junto às margens e nas praias, os pescadores e as gaivotas preguiçam longe das igrejas e dos cafés dos bairros cobertos por aquelas cores que me fazem lembrar Hastings e os "piers" ingleses mas que são inconfudivelmente portuguesas e estão-me pregadas na memória de uma adolescência nublada como o céu que nos envolve. É engraçado como aqui na Lua as realidades se separam tão bem e nos fazem viver experiências tão diferentes assim, de um momento para o outro. Acho que é esta caracterí­stica que me faz estar sempre a redimensionar as coisas até que finalmente lhes consigo dar a importância relativa que têm (pelo menos para mim, que neste caso até sou importante). Talvez a aridez e a Terra vista de longe, tão pequenina, ajudem... Imaginar-me a atirar uma pequena pedrinha e acertar em cheio na cabeça do Bush ou poder ver através dos meus fantásticos binúculos o nosso primeiro ministro sentado na sanita a ler as notí­cias do dia, tão pequenino, lá na sua casinha... faz-me acreditar nas coisas de diferente maneira. Os zun-zuns no espaço apagam-se. E por se apagarem, deixam de ser importantes e quando voltamos passam a ser dados adquiridos. Daqueles sobre os quais já nem pensamos, fazem parte da estrutura em que nos movemos e onde vamos construindo tudo o resto.
Poder-se-á chamar a isto alienação? Não sei, mas prefiro encaixar e seguir, egoístamente, a lançar-me em guerras sem fim e dolorosas. Se as coisas são assim, então deixem-se aprender a viver com elas e e seguir em frente que o tempo urge e o fim está todos os dias mais próximo, pelo menos mais um dia.
Acaba por ser pior ter a presunção de mudar o mundo como se o meu ponto de vista fosse universal ou justo.

Ou, no caso da democracia, como se a opinião da maioria pudesse a todos valer num mundo minado pela comunicação social onde dela dependemos para tecer opiniões.

Não há certezas pois não? O mais fácil no mundo é ter razão. Por isso, fico-me com a minha. À minha dimensão.

Bom, agora que é segunda-feira e nos diminuimos à  nossa condição, vamos lá tentar compreender este mundo numa jornada filosófica muito ingrata. Quase tão ingrata como a hipotética benção de estarmos vivos.
 
sábado, novembro 01, 2003
 
Isto de se ser moderno e ter "blogs" na net para falar de nada e poder dizer tudo é uma novidade para mim.

Hoje, dia de chuva e muito vento, fui apresentada a este universo de que já tinha ouvido falar mas que era tão distante que nem pensei poder aqui chegar...

Uma pesquisa no Google fez-me tropeçar em mais um Universo. Mas... extraordinário! Posso colonizar um pequeno planeta só meu... convenhamos que transmite uma estranha sensação de isolamento/solidão não totalmente desconhecida para mim mas vestida a preceito como convém a quem de tão desprezada precisa de continuar a agradar. A solidão é assim... menina rebelde que teima em aparecer para nos fazer companhia e desatormentar a alma em tempo de marés vivas e céus carregados.

E assim me lanço nesta nova forma de diário/monólogo reflexivo e demais aparvalhado de quem ainda não sabe muito bem como estar.

Perdoem os outros aliens (já sei que existe uma lista qualquer de recém-aquisições e que corro o risco de lá aparecer...) um devaneio menos próprio ou um desabafo social mais despropositado desta nova vizinha halloweenesca que em noite de bruxas e encantos ocupou este pequeno cantinho.
 
Cronicas de uma nova colonia. Comentarios: aquinalua@gmail.com

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