aqui na lua
quarta-feira, novembro 12, 2003
  Lisboa
Lisboa é linda.
Cada vez gosto mais de estar em Lisboa durante o Outono. Descer a minha rua, caminhar até ao Campo Grande e ver as folhas amarelas das árvores caí­das sobre a relva.
Existe no Campo Grande uma espécie em vias de extinção. Não, não é um animal. Os que lá habitam proliferam em bandos debaixo de terra e no ar. Estou a falar daquelas agulhadas palmeiras que observo desde pequena e que sempre me surpreenderam pela sua capacidade de resistência ao vento e pela altura que atingem. Parece que estas raridades originárias de um qualquer país exótico, estão afinal em vias de extinção no seu habitat natural e aqui, em plena Lisboa, junto a dois dos túneis com mais tráfego de Lisboa e, por conseguinte, poluição, encontraram um ambiente propício à sobrevivência.

Ontem tirei o dia. Tinha coisas para fazer em Lisboa de manhã e acabei por lá ficar. Ainda estava abalada pelo trauma da fome e não me apetecia fazer 40 km de auto-estrada para chegar ao trabalho. A marginal, durante o Verão é uma boa alternativa. Caminhar em direcção ao mar, contemplar o Bugio e as velas dos barcos enche-me a alma. No Inverno os acidentes e as horas intermináveis de filas fazem-me desesperar. Por isso acabo por optar pela auto-estrada.

Com os tons de Outono a invadirem-me as varandas e as janelas de casa acabei por ficar para almoçar. Fui ao Pingo Doce comprar bróculos que cozinhei para comer com uns bifes de frango. Saí­ novamente. Precisava de ir à Junta de Frequesia do Campo Grande para pedir umas informações em relação a um novo projecto e que me plantassem umas árvores nos canteiros em frente ao prédio, uma vez que as que lá estavam caíram durante os vendavais do Inverno passado. Sabia que devia dirigir-me à Junta porque assim me tinham dito os jardineiros da empresa responsável pela manutenção daqueles espaços verdes.
Caminhei pelo Campo Grande em direcção à Junta que fica entre a FCUL e o Museu da Cidade (Palácio Pimenta) onde habitam os pavões suicí­das. Passei pelo Caleidoscópio onde costumava ir ter com o meu pai para almoçar e passar depois a tarde a estudar no gabinete dele no C1, pelo novo café concerto e, nostálgicamente cheguei à porta da Junta.

Entrei para a recepção e dirigi-me à senhora que estava atrás do balcão. Depois de ter dito ao que vinha levei um choque. A primeira resposta da senhora, em bom português e como mandam os bons costumes foi: "isso não é aqui, é com a Câmara". Enchi-me de paciência e tentei explicar pausadamente e no meu melhor português que sabia que era ali que se devia tratar daqueles assuntos e que isso me tinha sido confirmado pela tal empresa. Sem ter de ir consultar nada e com alguns "pois é" e "isto é assim" pelo meio, lá concordou comigo e acabou por redigir o pedido à empresa para que plantassem as tais árvores no canteiro à minha porta. Depois chegou a parte mais difí­cil. Perguntei-lhe se a Junta tinha algum programa de apoio a actividades comunitárias na freguesia e o que seria necessário fazer para solicitar ou ter conhecimento sobre esses programas. A senhora desbobinou um discurso sobre os "velhinhos" que ocupavam a sala ali ao lado, sobre as actividades que se realizam nas escolas primárias da zona e mais um sem fim de "coitadinhos" e "eles precisam de se sentir gente" pelo meio. Mas resposta à minha pergunta... NADA! Nada... É triste ver o poder local assim... Estas instituições, que deveriam estar perto das pessoas e responder às questões relacionadas com a sua área estão cada vez menos ao alcance dos cidadãos. A Junta neste momento não é mais do que aquele sí­tio onde nos dirigimos para pedir o cartão de eleitor, ver as listas de recrutamento e se formos "velhinhos" ou "coitadinhos". E a burocracia mantém-se sustentada numa má-vontade colectiva...

A burocracia é um mal quase virtual. Não tem corpo verdadeiro. Ou pelo menos, aquele que nos salta à vista. A burocracia é manipulada pelas pessoas. Podia ser um meio potenciador da inovação e da concretização se as pessoas tivessem um real interesse em realizar alguma coisa, em marcar a diferença. Mas não têm.

Saí da Junta sentindo uma verdadeira frustração.

Voltei para casa, peguei no carro e fui buscar os miúdos à escola. Já não o fazia há semanas. Fomos para casa e fomos uma famí­lia. Até à hora de deitar. Li mais um capí­tulo de "O Feiticeiro de Oz" à Madalena e a Dorothy está quase a descobrir que o feiticeiro é um charlatão. É uma edição da Ambar do livro de L. Frank Baum com ilustrações de Lisbeth Zwerger. Fantástica. Até eu passei a gostar da história e me libertei da imagem do filme que me minou a imaginação durante tantos anos.
Depois fui-me deitar e dormi. Bem.
 
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