Passou o Natal... Fugaz, efémero.
Como dizia no outro dia, o Natal não são todos os dias, é uma vez por ano, pontual, vertiginoso. Acabou, venha o próximo, sempre em Dezembro.
Este Natal fica marcado por mais uma separação... pouco dolorosa talvez por pouco sentida...
Antes caía abruptamente no desespero da solidão e da injustiça e depois cavalgava as emções com o prazer masoquista de quem sente para estar vivo. Agora não sei... desenvolvi uma técnica de auto-defesa inabalável onde o não pensar é condição do não sentir: "olhos que não vêem, coração que não sente" - lá diziam os antigos. Esta expressão associada ao "o que é preciso é saúdinha" são verdades inabaláveis e, neste momento, de alguma maneira reconfortantes.
Mas o alívio, o alívio... de acabar um conflito mudo, de deixar de ter interferências... Um egoísmo de mãe solteira, de pata orgulhosa e de uma vida feita de pequenas grandes conquistas partilhadas a 4: eu e as minhas 3 crias. Crescemos juntos naquela cumplicidade que se associa aos pais muito novos que começam a vida como pais antes de a terem iniciado com indivíduos.
Claro que estou consciente de que é necessário uma referência masculina... talvez o conceito de família nuclear tenha sofrido mutações profundas, mas o conceito de mãe/pai e o antagonismo das posições têm um peso relativo na educação que não se deve menosprezar. E eu tento não o fazer. Mas a harmonia das relações não passa necessáriamente pela convivência quando esta não é possível, verdade? Não sei...
Sei que cada vez tenho mais dúvidas e que elas me tranquilizam, reduzindo-me à minha condição humana. Não tenho a atitude "panglossiana" de achar que "vivemos no melhor dos mundos possíveis", mas neste momento acordo feliz por acordar e estar viva, por poder partilhar o mundo com 3 seres extraordinários. O mais novo dos 3 ensinou-me isto. "É tão bom ser pequenino, ter pai, ter mãe e ter avós..." ter uma casa, comer, dormir, abraçar, abrir os olhos, fechá-los, rir, chorar... responder "não sei" sem angústia!
É tão bom ser quem sou.