Mas que coisa tão fina!
Fui de férias para outro sistema. A estrela não se chama Sol e cada planeta tem muitas luas. Parecem pequenos condomínios fechados suspensos no vácuo, climatizados e artificialmente iluminados. Todas estas artificialidades confundem-me o organismo e reflectem-se em crises alérgicas estridentes e espalhafatosas que incomodam bastante as famílias numerosas e casais surumbáticos que vagueiam pelos lagos artificiais deste mundo moderno. Por isso estava cheia de vontade de voltar à minha pequena colónia onde tenho de andar durante a noite para ter direito ao escuro e consequentes horas de descanso.
Mas... surpresa! Parece que o progresso chegou aqui também. As cores são (obviamente) azul e laranja, para não desenjoar, salpicadas de um apropriado cor-de-rosa que muda de tonalidade quando mexo a cabeça. Muito moderno.
Bom, como estas coisas não me dizem muito e já percebi o esquema de funcionamento do site e do registo, pelo menos na parte que me interessa, vou tentar recuperar o meu estilo de vida que aos farrapos vou vendo espalhado pelas crateras violadas da minha lua.
Eu não sou uma pessoa conservadora. Quer dizer... não me considero uma pessoa conservadora, mas não me lixem pá... uma estruturazinha, uma casinha para voltar, umas meias espalhadas e uma porta que de vez em quando não abre fazem parte do sonho acabado de qualquer pessoa. Sinto-me como aquelas pessoas que viviam numa favela e a quem foi dada uma casa nova: "As moscas são as mesmas, a merda é que mudou" e o espaço é tão limpo, tão limpo que o que está sujo parece tão mais sujo.
A Primavera continua hesitante...