O 28 de Maio acabou a 25 de Abril
O 28 de Maio acabou a 25 de Abril
O 28 de Maio morre a 25 de Abril, a quase meio século de prazo. Efectivamente, o regime chefiado pelo prof. Marcello Caetano não era mais da que o herdeiro, sem alterações de rumo essenciais, da do prof. Salazar, que, por sua vez, tomara o Poder das mãos do General Gomes da Costa, em condições ainda não suficientemente esclarecidas pela «história oficial».
Todavia, estes quarenta e oito anos (menos um mês e três dias) de regime não decorreram na tranquilidade que sempre se fez crer e que levava os portugueses a comprarem a Imprensa estrangeira para tomar conhecimento do acontecido mesmo ao virar da esquina.
Anotem-se os principais acontecimentos destes quarenta e oito anos.
1926 - O Movimento de 28 de Maio depõe o Governo de António Maria da Silva e o almirante Mendes Cabeçadas assume o Poder. Salazar é nomeado ministro das Finanças. Novo golpe militar do próprio Gomes da Costa destituiu Cabeçadas e Salazar regressa a Coimbra.
1927- Sinel de Cordes apresenta as contas públicas com um «deficit» de mais de 600 mil contos. O Governo pede avultado empréstimo à Sociedade das Nações, mas, recusando a fiscalização daquele organismo oficial quanto à sua aplicação, o contrato não chega a realizar-se.
1928 - Perante a difícil situação financeira, o prof. Salazar regressa novamente a São Bento para sobraçar a pasta das Finanças, sendo já Presidente da República o general Óscar Fragoso Carmona.
1930 - Publicação do Acto Colonial, que altera substancialmente as relações entre a Metrópole e as possessões de África. A 26 de Agosto: Revolução armada, com a participação de Botelho Moniz, que provoca numerosas vítimas.
1931 - Revolta da Madeira. É criada a União Nacional, que se manterá como partido único até aos nossos dias, apesar da mudança de designação para Acção Nacional Popular.
1932 - Salazar passa a exercer as funções de Chefe do Governo.
1933 - Aprovada, por plebiscito, a nova Constituição Política e Administrativa da Nação, que integra o Acto Colonial.
1935 - Eleição de Carmona para a presidência da República. Fracassa um movimento militar contra o regime.
1936 - Revolta de marinheiros em dois navios surtos no Tejo, que é dominada por forças afectas ao Governo.
1937 - Atentado dinamitista contra Salazar, a 4 de Julho. O primeiro ministro escapa ileso, sendo presos e condenados os autores da tentativa: José Horta, Manuel Francisco Pinhal, Alfredo Assunção Elói, António Pires da Silva, Jacinto Estêvão de Carvalho, Francisco Damião e outros.
1938 - Criada a Legião e a Mocidade Portuguesa.
1946 – Fracassa a revolta militar da Mealhada (que veio do Porto até aquela vila) sob o comando do capitão Queiroga.
1947 - Forças fiéis ao Governo neutralizam uma conspiração de republicanos-liberais e dissidentes do 28 de Maio.
1948 - Primeiras eleições presidenciais com a presença da oposição (o general Norton de Matos), que desiste à boca das urnas.
1951 - Morte de Carmona e novas eleições presidenciais (Oposição Rui Luís Gomes e almirante Quintão Meireles). O primeiro é considerado inelegível e o segundo desiste.
1958 - Candidaturas, contra o almirante Thomaz do dr. Arlindo Vicente e do general Humberto Delgado. Só Delgado iria até às urnas, conquistando «oficialmente» 23 por cento dos votos. O bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, é forçado a exilar-se no estrangeiro devido às posições tomadas durante as eleições. Só regressará após a subida, ao Poder, de Marcello Caetano.
1958 - Perante o resultado das eleições anteriores, é substancialmente modificado o processo de eleição do Chefe do Estado, que passa do directo para o indirecto.
11 de Março - Tentativa revolucionária, denominada «da Sé», dirigida pelo tenente-coronel Pastor Fernandes e o católico Manuel Serra.
1961- Henrique Galvão desvia o «Santa Maria» e Palma Inácio apossa-se de um avião da TAP, que faz sobrevoar Lisboa e o Sul do País.
A União Indiana anexa Goa, Damão e Diu. É destruído o forte de S. João Baptista de Ajudá. Inicia-se em Angola a luta de guerrilhas.
1962 - A 1 de Janeiro o general Humberto Delgado (sob disfarce), o capitão Varela Gomes e, entre outros, o dirigente católico Manuel Serra atacam o quartel de Beja.
Durante o operação morre em circunstâncias não muito bem esclarecidas, o subsecretário do Exército, tenente-coronel Jaime da Fonseca.
O quartel não chega a ser ocupado e a revolução aborta. Iniciam-se os movimentos universitários, que duram mais de 6 meses. Movimentos grevistas um pouco por todo o País, em especial na margem Sul do Tejo.
Na Guiné, o P.A.I.G.C. dá início aos seus primeiros atentados.
1964 - Também em Moçambique se iniciam movimentos guerrilheiros.
1965 - Dissolvida a Sociedade Portuguesa de Escritores. Reeleito, por colégio, o almirante Tomás.
Aparece morto, assassinado, cerca de Badajoz, ainda em território espanhol, o general Humberto Delgado.
1967 - Elementos da L.U.A.R., chefiados por Palma Inácio, assaltam a delegação da Figueira da Foz do Banco de Portugal, de onde levaram 30 000 contos, abrindo um precedente que se multiplicaria até ao dia de hoje.
1968 - Greve dos funcionários da Carris. O dirigente socialista Mário Soares é deportado para a ilha de S. Tomé.
A 7 de Setembro, Salazar é internado após uma queda. No dia 26 anuncia-se a sua exoneração, sendo substituído pelo prof. Marcello Caetano.
1973 - Dezembro - Tentativa de golpe de Estado, por parte da extrema-direita, aproveitando a ausência de Marcello Caetano no enterro de Carrero Blanco, o primeiro-ministro espanhol assassinado dias antes.
1974 - Fevereiro – Publicação do livro «Portugal e o Futuro» do general António de Spínola, que provoca vivas reacções.
Março, 15 - Numerosos generais manifestam a Marcello Caetano o apoio das Forças Armadas.
Março, 16 - Um grupo militar parte das Caldas da Rainha para nova intentona. Falhando apoios que aguardavam, os militares revoltados são detidos à entrada de Lisboa e regressam às Caldas, onde acabarão por se render.
Lisboa · Sexta-Feira, 26 de Abril de 1974
Fonte: http://www.instituto-camoes.pt/bases/25abril/28mai25abr.htm