Não ames muitas vezes, mas ama para sempre
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Não ames muitas vezes, mas ama para sempre. Era um dos lemas da minha mãe e ao longo de toda a minha vida tem sido a história do meu coração. Antes de vir para a abadia, julgava que tinha percebido. O amor pela minha mãe; o amor pelos meus amigos; o amor obscuro e complexo de uma uma mulher por um homem. Mas quando Fleur nasceu, tudo mudou. Um homem que nunca viu o mar pode
pensar que compreende o mar, mas projecta apenas aquilo que sabe; imagina uma imensa massa de água, maior do que uma represa de moinho, maior do que um lago. A realidade, porém, transcende a imaginação: os odores, os sons, a angústia e o júbilo excedem qualquer comparação com experiências anteriores. Foi o que se que se passou com Fleur. Jamais, desde o meu décimo terceiro Verão, tinha havido um despertar assim. Desde o primeiro instante, quando Mére Marie ma levou para lhe dar de mamar, eu soube que o mundo tinha mudado. Tinha estado sozinha sem o saber; tinha viajado, lutado, sofrido, dançado, fornicado, amado, odiado, ofendido e triunfado completamente só, vivendo o dia-a-dia como um animal, sem me preocupar com nada, sem desejar nada, sem recear nada. E de súbito, tudo era diferente: Fleur viera ao mundo. Eu era mãe."
in Na Corda Bamba
Joanne Harris