aqui na lua
terça-feira, junho 15, 2004
  Salpicos de revolta



"Quando um homem da floresta
Passando vê uma flor,
Não apanha a flor com a mão.
Pára, e depois seguindo,
Leva a flor no pensamento
e o aroma no coração."

Lembrei-me disto a propósito de uma discussão acesa que tive hoje por telefone... há pessoas que vivem em absoluto estado de direito e que vivem e respiram como se tudo lhes pertencesse e não tivesse direito à existência senão para lhes agradar ou servir.
O pior é que são demagogos o suficiente para disfarçar as suas verdadeiras intenções com justificações espiritualistas do género: "eu não uso por querer, sou obrigado a isso porque a sociedade não gosta de mim e tenho muito azar em tudo o que faço e todos estão melhor que eu mas eles é que têm problemas. Por isso eu sou uma alma superior que evoluiu com sofrimento e sei mais através da minha experiência do que o mundo inteiro e por essa razão toda a gente me devia prestar vassalagem e ficar contente porque eu existo e faço bem a quem me rodeia. E se não faço é porque as pessoas não o querem sentir"

Há paciência????? Mas que merda é esta????? Esta geração pós 25 de Abril (à qual pertenço) anda com os cornos ao contrário! Que raio de valores nos tentaram impingir que não os vejo? Onde está a liberdade de cada um? Onde está o respeito ao próximo? Onde estão os compromissos de cidadania? É esta merda a auto-determinação?????? Eu faço o que me apetecer porque não tenho de assumir responsabilidades pelos meus actos? Porque as consequências não são minhas são o curso natural das coisas? Porque não tinha intenção??????

O mais fácil seria alienar a nossa vida, abrir falência e colocar os problemas em hasta pública. Ou, como diriam antigamente: meter a cabeça debaixo da terra e bater as asas com força para assustar os dragões.

Cada vez me parece mais que andei anos a lutar por coisas ao lado de pessoas que lutam por abstrações e que o fazem por moda, com a convicção de quem não precisa de pensar muito porque já muita gente pensou por elas o que concerteza lhes dá razão. É ou não é?

É ou não é que exploramos os outros nas coisas mais simples e que a vergonha não nos mata? É ou não é que a exploração é feita a vários níveis: trabalho, casa, filhos? É ou não é que desde que há divórcios o número de mães solteiras a sustentar os filhos sózinhas tem vindo a aumentar anualmente de uma forma absurda? Há alguém que me mande uma estatística exacta deste fenómeno? É que estas mães matam-se a trabalhar para poderem igualar os colegas de trabalho e sacrificam uma relação saudável construída através da presença na educação dos filhos para que os benditos senhores possam preservar os seus direitos, a sua liberdade e a sua auto-determinação!!!!!!

Não há nenhum julgamento final? É que esta cena de ser ateia não me dá consolo nenhum! A lei não protege eficazmente estas mulheres e ainda por cima não há um Deus para castigar o malfeitores e puni-los ferozmente!

Resta-me o consolo de saber que tudo passa: "Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". E o desconsolo de saber que este é também o consolo dos outros.


 
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