aqui na lua
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
  Por falar em longos dias...
... longos me parecem estes que passam...

A ternura das crianças, presente no meu quotidiano... Um olhar, um gesto, um murmúrio, um suspiro, uma gargalhada... não há medos, inseguranças, restrições, morais ou preconceitos que aprisionem a inocência e algemem a ternura destes pequenos seres que povoam os meus dias, as minhas noites, a minha casa, a minha cabeça e o meu coração.

Não fossem elas e os dias seriam curtos, tão curtos que provavelmente só daria por eles quando deixassem de existir. E aí seria tarde de mais porque se os dias deixassem de existir eu deixaria de poder senti-los a passar ou a não passar.
Curtos por não terem sentido, porque o sentido que lhes encontro está em associá-los à Natureza e ao tempo que nela se concretiza. Os meus filhos ligam-me a esse tempo e esse tempo está para lá do meu quotidiano citadino onde tudo perde existência e passa a não ser.
Como em koyaanisqatsi. Como eu sempre temi. Como, infelizmente e à semelhança de tantos como eu, também tive medo de evitar.

Hoje revi koyaanisqatsi... e, como sempre acontece quando vejo algo realmente bem feito, emocionei-me. Pelo retrato violento das nossas vidas. Pelo vazio angustiante que identifico a cada sequência. Porque afinal não ía ser diferente aqui.
Ver este filme agora, no quadro em que vivemos é, no mínimo, perturbador.

Se o facto de um partido ou outro ganhar não influenciasse em nada as nossas vidas, e se as nossas vidas não fossem realmente tudo o que resta no final, poderíamos colocar-nos num plano mais abrangente, redimencionar as distâncias que nos separam das coisas, pensar nisto como um (apenas) micro-segundo e ressubstanciar toda a sua, já pouca, importância. É um exercício inevitável quando se assiste a koyaanisqatsi, e mesmo nas horas que se lhe seguem.

E foi neste exercício que tropecei naquele que passou já há uns anos a ser o grande sentido da minha vida e a força que me faz avançar sem medos nesta escuridão onde a maior parte dos monstros continuam tão difíceis de verbalizar como os dos seus pesadelos de criança. É pelos meus filhos que sufoco o medo para não o transmitir, que sacudo o arrepio que teima em persistir e que olho para o infinito ansiosa pelo que ainda não consegui alcançar.

É terrível a responsabilidade de trazer outros seres ao mundo e é pesado o fardo que carregamos para os aliviar.

Desta perspectiva, que alento nos leva à urnas no Domingo? Que discurso mais emocionado ou demagógico nos irá convencer?
Tudo é verdadeiramente absurdo. Mas quando Tudo passar para nós e estiver para os que virão ainda seremos lembrados nas consequências dos nossos actos. Assim, apenas estes motivos me chamam às urnas no Domingo: a crença inexplicável de que se não fizer nada desresponsabilizei-me pelo futuro dos meus filhos e a alternativa impraticável que é fugir para onde não nos encontrem e fingir que o nosso mundo ainda é outro.

Dizer que ninguém espelha as minhas convicções, ou luta por um futuro global melhor, não é uma atitude reconhecida no sufrágio. Infelizmente. Porque, como eu, muita gente não fica representada nestas eleições.

Até breve
 
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