Cruzadas involuntárias
Há pessoas esclarecidas que afirmam que aos trinta há uma crise qualquer... assim daquelas que nos fazem crescer (casos felizes até então) ou infantilizar (casos felizes de então em diante).
Quando cheguei aos 29, projectei os 30 e disse a toda a gente que tinha 30 sem os ter completado ainda.
Quando cheguei aos 30 achei que por ter estado tanto tempo a pensar e a afirmar que os tinha já estava imune.
Quando os 31 surgiram no horizonte, e no meu caso, o mundo desabou!
Tem necessáriamente a ver com os 30. Com crises pré-formatadas já duvido. Mas que é uma porra...
Acordo irritada porque sim.
Deito-me triste porque sim.
Não tenho paciência nem para a minha voz e para os meus tiques de personalidade quanto mais para os dos outros.
Não tenho paciência para pessoas que procuram incessantemente um lugar na estante das suas convicções para tudo.
Irritam-me os prédios e as vidas engavetadas.
Irritam-me os carros só com uma pessoa, as filas de trânsito e as rádios que falam das filas de trânsito e que nos confrontam com a miserabilidade da nossa rotina artificial.
Irritam-me as pessoas que consultam anjos, horóscopos, tarots e videntes para decidir sobre as suas próprias vidas porque não se querem dar ao trabalho de optar e não têm coragem de arriscar.
Odeio pessoas que procuram pessoas com certificado de garantia ou garantia de alguma coisa.
Odeio pensar no que poderia ter feito e não fiz.
Recuso-me pensar que a vida é instável em si mesma e que, por isso, o melhor é acomodar-nos.
Recuso-me a ser insensível para não voltar a ser magoada.
Recuso-me a deixar de acreditar porque serei sempre uma romântica incurável e não o contrário.
Quero continuar a ter ideias parvas e lutar para as pôr em prática.
No fundo, aceitar e construir o meu próprio ridículo e não me sujeitar ao ridículo colectivo.
Mas, se cresci até agora ainda tenho a hipótese de infantilizar. Se não, estou fodida!