Milfontes
JL - Junho 2006 (tnx J...!)Fomos para Vila Nova de Milfontes aproveitar o fim de semana e o feriado de Santo António. Escapámos às sardinhas que deram lugar a uns incríveis sargos apanhados mesmo ali ao largo e amanhados à porta de casa em cima das rochas à beira-mar. A J... amanhou-os, eu escamei-os e o X... assou-os. Todos comemos!
Ainda vieram uns polvos para Lisboa que vão acabar tragicamente na panela da minha mãe e, posteriormente, nas barrigas do resto da família.
Quando eu era miuda, lembro-me de ficar na praia até ao anoitecer com a minha mãe e a minha irmã à espera do meu pai que tinha ido para o mar fazer caça submarina. Eu e a minha irmã enroladas nas toalhas e a morrer de frio e a minha mãe olhando ansiosa para o mar à espera da mancha negra que eventualmente se iria aproximar da praia a dar às barbatanas e com o acroche cheio de jantar. Nesta altura acampávamos onde calhava (menos em parques destinados para tal) e tudo era artesanal: o fogão era uma fogueira, o duche eram baldes de água que aquecia durante o dia ao sol e que servia também para lavar a loiça e a despensa ficava pendurada nas árvores. Quando ele chegava ainda era preciso amanhar o peixe, voltar para o acampamento, acender a fogueira e assar o peixe e as batatas.
Amanhar o peixe era tarefa da minha mãe e enojava-nos simplesmente ver o peixe a ser esventrado com os olhos arregalados... Nunca aprendi tal arte e teve mesmo de ser a J... a executar essa tarefa. Eu escamei-os como me lembro de ver a minha mãe fazer embora ela agarrasse o peixe pela cabeça e eu só o conseguisse agarrando-o pelo rabo.
Quando a noite caiu, 2 senhoras chegaram-se à beira-rio e perguntaram: "São da casa? Então fiquem de olho aqui nas velhotas que estão a pescar. Não queremos que os gatunos se aproximem!" - E ali ficaram quase 4 horas a lançar linha e a colocar no balde peixe atrás de peixe num ritmo próprio de quem está habituado à rotina.
Aqui a logística do jantar e dos banhos quentes era menos complicada mas mesmo assim acabámos por ficar à mesa até às 3h00 da manhã enquanto a maré enchia trazendo as águas e o reflexo da lua (que atravessa o mar, a praia, a baía e deixa um rasto que apetece seguir até onde os olhos conseguem ver) até à casa onde a ondulação acaricia o muro e embala as conversas.
Nós continuámos a petiscar peixe grelhado, batatas assadas, salada fresca, cerveja atrás de cerveja, copo de sangria atrás de copo de sangria, cigarro atrás de cigarro até as forças apenas nos permitirem levitar até à cama e dormir com o barulho do silêncio e o silêncio do barulho da maré a vazar.