aqui na lua
sábado, dezembro 23, 2006
  5º andar com vista para a cidade

Oficina da Terra

Aqui estou eu, em plena cidade de Lisboa num sítio previlegiado.
Esta casa, cheia de recordações, de livros, dos discos todos da banda-sonora da minha infância e adolescência e de sítios onde se consegue estar sozinha. Esta casa é a única que conheço onde, embora cheia, há sempre um refúgio, uma cadeira, um sofá com luz própria onde o resto do universo cabe todo em forma de imaginário e nos enche de nós a pensar e em silêncio.
É sempre bom chegar, deixar os miúdos procurar o seu lugar e encontrar um para mim. Hoje foi aqui, em frente ao portátil, numa mesa de xadrez junto à varanda de onde consigo ver o Campo Grande na escuridão e Biblioteca Nacional a espreitar por detrás da copa das grandes árvores. Se me chegar à varanda e olhar para baixo posso ficar horas a observar as luzes dos carros traçando os percursos de sempre e as ruas dividindo os faróis vermelhos em várias linhas.
Às vezes vem da cozinha o som de uma missa de Bach ao som da qual a minha mãe vai fazendo o jantar ou da sala o som das notícias intercalado com um disco antigo do Leonard Cohn ou do Carlos Paredes. Às vezes vem o som do meu pai a cantar em plenos pulmões por cima da Amália ou do Chico Buarque. Outras vezes o som dos miúdos a brincar ao faz de conta em castelos de colchões velhos onde se transformam em cavaleiros temíveis.
Gosto de estar aqui de vez quando. Claro que se vier todos os dias a nostalgia dá espaço às irritações e picardias próprias de uma família cheia de personalidades complexas onde a emoção está sempre à flor da pele e onde os pontos de vista são tantas vezes divergentes. Quantas vezes nos zangamos quase com juras de afastamento total e no dia seguinte, como se nada fosse dizemos ao telefone: "sabes quem me ligou?" e tudo volta à normalidade. De certeza que Freud ou algum psicoterapeuta manhoso encontram mil e uma explicações profundas para isto, mas não nos interessa. Mesmo assim, conseguimos falar e aprender uns com os outros e receber quem vem de fora com os braços abertos.
Agora vamos abrir uma garrafinha de tinto e fazer os sonhos que, contra tudo e contra todos (principalmente eu), a minha mãe decide fazer. Ainda bem. Se não fosse ela este Natal seria uma miséria porque eu estou numa de racionalização do conceito e sou contra.
 
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Cronicas de uma nova colonia. Comentarios: aquinalua@gmail.com

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