idas e voltas
Este ano comecei a ir 2 vezes por mês ao Algarve em trabalho. De cada vez passo 4 dias e por cada um se torna mais dificil voltar. Se não fossem os miudos e as escolas, as rotinas e os compromissos, ficaria muito mais tempo.
Como difícil (espero eu) é começar, sacrifiquei um pouco do descanso e comprometi-me a fazer a viagem com alguma regularidade - para não obrigar os miudos a uma mudança drástica e para eu própria perceber se me adapto a uma nova vida longe da restante família e dos satélites que nos habituámos a observar rondando a nossa casa. O pior é que estas mudanças trazem alguma instabilidade emocional e muitas dúvidas, muitas dúvidas... Dúvidas acerca do que será, acerca do que somos, acerca do que são os outros nas nossas vidas e acerca do que nos prende e do que na realidade nos faz falta. Talvez mesmo acerca da nossa realidade...
Quero há muito tempo poder dar este passo e desde que vim para Lisboa a minha relação com esta cidade é controversa: gosto de voltar, mas não gosto de cá viver. Esta oportunidade de poder aproximar-me daquilo que ambiciono no que diz respeito à minha relação com o meu habitat e com o ambiente em que quero educar e ver crescer os meus filhos é uma bóia de salvação - o que me está a acontecer é que já sou náufraga há tanto tempo que não sei se esta bóia não terá vindo tarde demais e se não me apetece ficar aqui a boiar e a observá-la enquanto se afasta.
A perspectiva de lá é outra... quando chego sinto-me em casa e quando parto vem a melancolia... da vida que sonho ter, dos dias que faltam para poder voltar, de quem deixa uma casa que ainda não tem e olha em redor para guardar memória do que é seu e prepara tudo para quando voltar. A inexistência dessas coisas angustia-me quando estou cá e alenta-me quando lá estou.
É tão difícil... também porque é solitário. Porque quando olho para o lado quem eu queria não vai fazer este caminho comigo, porque os meus projectos foram sempre só meus e porque aquela inevitável altura do caminho em que decido ir em frente está a aproximar-se e a perda assoma no horizonte.
Mais uma vez, não estarei só porque quem tem filhos nunca está só, mas a solidão volta... sempre teimosa, sempre caprichosa e sempre, mas mesmo sempre, inevitável.