inconformismo... sempre
Quando abro a boca, em várias situações, tenho a sensação de que a reação é invariavelmente de desconforto por parte de quem me rodeia. Do género: lá vem esta levantar problemas, ou: o que é que foi agora?
Isto acontece-me nas reuniões no café ao pequeno-almoço com os olhos postos no jornal, nas reuniões de pais e até nos jantares de família.
O que é que se pode fazer? Perante a falta de civismo e consciência democrática que prolifera neste país há quem não consiga ficar calado. Em relação ao ambiente, em relação ao reconhecimento da prostituição, do consumo de drogas, à despenalização do aborto ou ao casamento homossexual (já para não falar na fraca qualidade do ensino que nos servem nas escolas e a que sujeitam os nossos filhos). Questões que assim postas e alinhadinhas devem criar tanto ou mais desconforto que os meus discursos inconvenientes. Foi de propósito. Estou farta de hipócritas, egoístas, conformados, ignorantes e falsos beatos... quem quiser que perceba - aqui posso dizer o que me apetecer (não é que não o faça em quase todas as outras ocasiões...)
Continuarei a falar e continuarei a ser inconveniente enquanto tiver forças para tal e não me for retirado o direito a uma cidadania participativa. Sem vergonha, sem tabus e com a consciência de que neste país só se olha para os umbigos e se vive da imagem e do orgulho em se ser mártir ou super-mulher (até nesta merda os gajos conseguiram ser mais espertos que nós). Há quem queira ser feliz e ser feliz passa por não ser humilhado pelas suas opções e ser orientado nos seus problemas. Ninguém quer promover nada... apenas se quer que o que existe seja reconhecido e não alienado.
Vender o corpo para comer não é crime - ser espancado ou estar sujeito a doenças por violação dos seus direitos é.
Consumir drogas não é crime - morrer de overdose pela má qualidade do produto ou fazer dinheiro à custa do sofrimento dos outros é.
Abortar não é crime - enriquecer prestando um serviço clandestino de má qualidade e pondo em risco a vida dos seus doentes é.
Ter a pretensão de que se sabe mais sobre estes assuntos do que quem os vive diárimente ou pelo menos uma vez na vida é ridículo, por isso, o que dizer de quem acha que pode decidir em nome destes do cimo da confortável distância a que se encontra?
Numa sociedade em que ainda se luta para que os cidadãos apanhem a merda de cão dos passeios, tirem os automóveis dos passeios, deixem os carros em casa e andem de transportes públicos, reciclem, descansem, lutem pelos seus direitos, paguem os seus impostos, não bebam antes de conduzir etc, etc, etc é quase titânico enfrentar uma empreitada destas, mas este referendo (que não devia ter sido aprovado) tem de servir para confirmar algo que devia ter sido decidido e não questionado mais uma vez.
Divulguem as estatísticas, confrontem toda a comunidade com os números. Exaustivamente. A toda a hora. Mesmo que não mudem opiniões, digam aquilo que ninguém quer saber e obriguem as pessoas a pensar.