aqui na lua
domingo, janeiro 28, 2007
  pouca-terra, pouca-terra
26 de Janeiro

7h55 - Sta Apolónia
O meu pai faz hoje anos, 58.
Estou em Sta Apolónia com 8 bilhetes para o Porto no bolso e toda a roupa que me foi possível vestir em cima do corpo. Vamos em visita técnica à Casa da Música e, desta vez, de Alfa Pendular. Estamos todos menos quem faz mais falta mas isso já é normal... a exactamente 2 minutos da partida entra calmamente na carruagem como se nada fosse, alheio ao nervoso miudinho da produção e resto da equipa que já contava em segredo as horas que demorava o próximo comboio a chegar a Campanhã. Sento-me e preparo-me para 3 horas de viagem a caminho do Norte que começa a fazer, cada vez mais, parte dos destinos frequentes... Neste país onde o vento Norte me empurra naturalmente para o Sul é difícil enfrentar a bolina e virar costas às planícies alentejanas. Por isso vou de costas e da minha janela, durante algum tempo, observo o Tejo serpenteando e reflectindo o nascer do sol: "até já, não te demores..."
Algumas estações depois paramos em Coimbra. Estive em Coimbra no início do Verão do ano passado e a palavra História (com letra grande) pesou-me na alma. Coimbra carrega um passado com massa que é visível em cada casa, em cada porta, janela, rua... como se cada época, cada década ali tivesse alicerçado a sua alma e tivesse querido permanecer para sempre.

11h10 - Campanhã
À saída da estação enfiamo-nos em 2 taxis e dirigimo-nos para a Casa da Música (ainda me ocorre que teria sido mais fácil sair em Gaia, mas agora é tarde). Passamos pela Rotunda da Boavista que está deserta e solitária fazendo lembrar um Domingo e aproximamo-nos do local onde planeio ir desde que abriu mas que até hoje não passou disso mesmo: um desejo não concretizado. Gostaria de ter chegado para ir ver um concerto e entrar à noite para das janelas poder observar o contraste iluminado que formam a estrutura do edifício e as coloridas fachadas dos prédios antigos do outro lado da rua. Mas a vida não é um conto de fadas e a malta passa a maior parte do tempo a trabalhar para viver e a sonhar com o que gostaria de estar a fazer... por isso entro com a equipa atrás e autisticamente começamos a percorrer salas, escadas, corredores, átrios e todos os espaços onde é possível caber alguma coisa. Ensaiamos passagens, tempos e fórmulas até conseguirmos tirar meia dúzia de meias conclusões que nos vão permitir continuar a trabalhar mas que ainda não nos dão certezas algumas. Verificamos entradas, camarins, elevadores e tudo o que é necessário para colocar as pessoas e as toneladas de material que são, a cada minuto, acrescentadas à lista que neste momento é assustadoramente grande...
Porque é que as coisas que à partida parecem simples são as que, quase inevitavelmente, se tornam mais complicadas?
Saímos a tempo de uma francesinha (mas quem é que inventou esta porcaria?) e de ir novamente a correr para o comboio (porque é que não nos lembrámos de Gaia, porra?).

16h15 - Campanhã
Entramos no comboio a 3 minutos da partida e sento-me à mesa onde supostamente teremos uma reunião durante a viagem. Para trás fica a cidade que me transporta sempre numa viagem de melancolia e tristeza silenciosas porque ao Porto sempre fui em trabalho ou pelas pessoas erradas... há coisas que nos toldam a perspectiva e que condicionam a experiência que temos dos espaços. O Porto nunca foi uma boa experiência para mim: a sua profunda beleza e a pálida luz que ilumina as suas cores entristecem-me. A F... fala-me da loja de sapatos que adora e o A... das noitadas na invicta. Sítios que desconheço e dos quais nem sequer ouvi falar mas onde gostaria de ir. No dia em que for à Casa da Música ver um concerto, puder passear sem pressas na Ribeira e ir às compras de carteira cheia.
No comboio, desta vez, vou de frente enfrentando o destino de peito aberto. O Sul é a minha terra e espera-me no final da linha.
De novo Lisboa vista do Norte... é tão bonita!

19h25 - Sta Apolónia
Ponho os pés no solo. Inspiro profundamente. A poluição é imensa mas cheira à Lisboa confusa, desprojectada e cheia de contrastes que amo e odeio simultaneamente. A nostalgia sai de mim dando lugar a uma serenidade calorosa que nem o frio impede de se instalar. Caminho em direcção ao carro e o Tejo lá está... acariciando suavemente a cidade e reflectindo as luzes que a noite acendeu.
Talvez o Porto seja mais bonito, talvez tenha mais glamour e seja mais cosmopolita que Lisboa. Mas esta imaturidade, imprevisibilidade e vivência desajeitada de Lisboa fazem-na única e incomparável...
Talvez o Porto possa despertar melhores emoções no futuro.

Parabéns paizinho!... eu fui ao Porto e voltei...
 
Comments:
mto bom este video, o som acho que não está síncrono mas vale a pena, e tb mto apropriado para este blog e respectiva bloguista(?)
João

http://www.youtube.com/watch?v=IJbbJbEDF5A
 
sim. e afinal as guitarras estavam lá. no outro. mas tu tens um ouvido mais treinado para essas coisas.
cada vez gosto mais deste tipo.
bjs
 
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