Domingo
O problema destes blogs (e por isso tenho retiradas estratégicas de vários meses) é que, embora o assunto não se esgote, a partir de uma determinada altura começam a ser verdadeiramente enfadonhos. A nossa vida não é um filme americano onde em cada minuto cabem imensos acontecimentos que, por muito absurdos que sejam, transbordam interesse mediático. 3 dias são 3 dias e não há como escapar à redundância, causada pela rotina, das minhas reflexões. Isto porque o Aqui na Lua espelha muito da realidade de quem o escreve (embora algumas partes do que é escrito sejam ficção) ou seja, eu.
Claro que posso, e já o fiz, inventar posts para marcar a assiduidade, mas não era esse o propósito inicial. O objectivo era fazer um relato mais ou menos inspirado de uma vida pouco comum e, dessa forma, contribuir para a normalização de aspectos originais mas injustamente descriminados resultantes da realidade actual. Não para lhe atribuir uma demais importância, mas porque seria um relato sentido e vivido na primeira pessoa (não obstante a parcialidade subjacente) logo, (pelo menos em alguns aspectos) realista.
Mas lá está... nem sempre apetece ou faz sentido.
Caminhando...
Há imagens que falam por si. Há outras que deviam ter legenda.
E há aquelas que se podem interpretar de tantas maneiras que o melhor é deixar ao critério de cada um...
Esta é uma foto de Erik Reis e chama-se "Pela estrada fora".
Que estrada?
Quem a percorre?
Porquê?
Para Onde?
Será realmente importante? Parece apenas um gigante errante caminhando na aridez de uma montanha...
Reflexão pós-eleitoral
As farófias quentes fazem mal à barriga.
Não sei como não apanhei uma indigestão...
Reflexão pré-eleitoral
Adoro farófias.Mesmo assim, quentes.
Ao som do Agnus Deis do Requiem de Mozart dirigido por John Eliot Gardiner.
A ler o Expresso sentindo o Sol que se põe nas minhas costas, atrás da Biblioteca Nacional.
Por falar em longos dias...
... longos me parecem estes que passam...
A ternura das crianças, presente no meu quotidiano... Um olhar, um gesto, um murmúrio, um suspiro, uma gargalhada... não há medos, inseguranças, restrições, morais ou preconceitos que aprisionem a inocência e algemem a ternura destes pequenos seres que povoam os meus dias, as minhas noites, a minha casa, a minha cabeça e o meu coração.
Não fossem elas e os dias seriam curtos, tão curtos que provavelmente só daria por eles quando deixassem de existir. E aí seria tarde de mais porque se os dias deixassem de existir eu deixaria de poder senti-los a passar ou a não passar.
Curtos por não terem sentido, porque o sentido que lhes encontro está em associá-los à Natureza e ao tempo que nela se concretiza. Os meus filhos ligam-me a esse tempo e esse tempo está para lá do meu quotidiano citadino onde tudo perde existência e passa a não ser.
Como em koyaanisqatsi. Como eu sempre temi. Como, infelizmente e à semelhança de tantos como eu, também tive medo de evitar.
Hoje revi koyaanisqatsi... e, como sempre acontece quando vejo algo realmente bem feito, emocionei-me. Pelo retrato violento das nossas vidas. Pelo vazio angustiante que identifico a cada sequência. Porque afinal não ía ser diferente aqui.
Ver este filme agora, no quadro em que vivemos é, no mínimo, perturbador.
Se o facto de um partido ou outro ganhar não influenciasse em nada as nossas vidas, e se as nossas vidas não fossem realmente tudo o que resta no final, poderíamos colocar-nos num plano mais abrangente, redimencionar as distâncias que nos separam das coisas, pensar nisto como um (apenas) micro-segundo e ressubstanciar toda a sua, já pouca, importância. É um exercício inevitável quando se assiste a koyaanisqatsi, e mesmo nas horas que se lhe seguem.
E foi neste exercício que tropecei naquele que passou já há uns anos a ser o grande sentido da minha vida e a força que me faz avançar sem medos nesta escuridão onde a maior parte dos monstros continuam tão difíceis de verbalizar como os dos seus pesadelos de criança. É pelos meus filhos que sufoco o medo para não o transmitir, que sacudo o arrepio que teima em persistir e que olho para o infinito ansiosa pelo que ainda não consegui alcançar.
É terrível a responsabilidade de trazer outros seres ao mundo e é pesado o fardo que carregamos para os aliviar.
Desta perspectiva, que alento nos leva à urnas no Domingo? Que discurso mais emocionado ou demagógico nos irá convencer?
Tudo é verdadeiramente absurdo. Mas quando Tudo passar para nós e estiver para os que virão ainda seremos lembrados nas consequências dos nossos actos. Assim, apenas estes motivos me chamam às urnas no Domingo: a crença inexplicável de que se não fizer nada desresponsabilizei-me pelo futuro dos meus filhos e a alternativa impraticável que é fugir para onde não nos encontrem e fingir que o nosso mundo ainda é outro.
Dizer que ninguém espelha as minhas convicções, ou luta por um futuro global melhor, não é uma atitude reconhecida no sufrágio. Infelizmente. Porque, como eu, muita gente não fica representada nestas eleições.
Até breve