7h55 - Sta Apolónia O meu pai faz hoje anos, 58. Estou em Sta Apolónia com 8 bilhetes para o Porto no bolso e toda a roupa que me foi possível vestir em cima do corpo. Vamos em visita técnica à Casa da Música e, desta vez, de Alfa Pendular. Estamos todos menos quem faz mais falta mas isso já é normal... a exactamente 2 minutos da partida entra calmamente na carruagem como se nada fosse, alheio ao nervoso miudinho da produção e resto da equipa que já contava em segredo as horas que demorava o próximo comboio a chegar a Campanhã. Sento-me e preparo-me para 3 horas de viagem a caminho do Norte que começa a fazer, cada vez mais, parte dos destinos frequentes... Neste país onde o vento Norte me empurra naturalmente para o Sul é difícil enfrentar a bolina e virar costas às planícies alentejanas. Por isso vou de costas e da minha janela, durante algum tempo, observo o Tejo serpenteando e reflectindo o nascer do sol: "até já, não te demores..." Algumas estações depois paramos em Coimbra. Estive em Coimbra no início do Verão do ano passado e a palavra História (com letra grande) pesou-me na alma. Coimbra carrega um passado com massa que é visível em cada casa, em cada porta, janela, rua... como se cada época, cada década ali tivesse alicerçado a sua alma e tivesse querido permanecer para sempre.
11h10 - Campanhã À saída da estação enfiamo-nos em 2 taxis e dirigimo-nos para a Casa da Música (ainda me ocorre que teria sido mais fácil sair em Gaia, mas agora é tarde). Passamos pela Rotunda da Boavista que está deserta e solitária fazendo lembrar um Domingo e aproximamo-nos do local onde planeio ir desde que abriu mas que até hoje não passou disso mesmo: um desejo não concretizado. Gostaria de ter chegado para ir ver um concerto e entrar à noite para das janelas poder observar o contraste iluminado que formam a estrutura do edifício e as coloridas fachadas dos prédios antigos do outro lado da rua. Mas a vida não é um conto de fadas e a malta passa a maior parte do tempo a trabalhar para viver e a sonhar com o que gostaria de estar a fazer... por isso entro com a equipa atrás e autisticamente começamos a percorrer salas, escadas, corredores, átrios e todos os espaços onde é possível caber alguma coisa. Ensaiamos passagens, tempos e fórmulas até conseguirmos tirar meia dúzia de meias conclusões que nos vão permitir continuar a trabalhar mas que ainda não nos dão certezas algumas. Verificamos entradas, camarins, elevadores e tudo o que é necessário para colocar as pessoas e as toneladas de material que são, a cada minuto, acrescentadas à lista que neste momento é assustadoramente grande... Porque é que as coisas que à partida parecem simples são as que, quase inevitavelmente, se tornam mais complicadas? Saímos a tempo de uma francesinha (mas quem é que inventou esta porcaria?) e de ir novamente a correr para o comboio (porque é que não nos lembrámos de Gaia, porra?).
16h15 - Campanhã Entramos no comboio a 3 minutos da partida e sento-me à mesa onde supostamente teremos uma reunião durante a viagem. Para trás fica a cidade que me transporta sempre numa viagem de melancolia e tristeza silenciosas porque ao Porto sempre fui em trabalho ou pelas pessoas erradas... há coisas que nos toldam a perspectiva e que condicionam a experiência que temos dos espaços. O Porto nunca foi uma boa experiência para mim: a sua profunda beleza e a pálida luz que ilumina as suas cores entristecem-me. A F... fala-me da loja de sapatos que adora e o A... das noitadas na invicta. Sítios que desconheço e dos quais nem sequer ouvi falar mas onde gostaria de ir. No dia em que for à Casa da Música ver um concerto, puder passear sem pressas na Ribeira e ir às compras de carteira cheia. No comboio, desta vez, vou de frente enfrentando o destino de peito aberto. O Sul é a minha terra e espera-me no final da linha. De novo Lisboa vista do Norte... é tão bonita!
19h25 - Sta Apolónia Ponho os pés no solo. Inspiro profundamente. A poluição é imensa mas cheira à Lisboa confusa, desprojectada e cheia de contrastes que amo e odeio simultaneamente. A nostalgia sai de mim dando lugar a uma serenidade calorosa que nem o frio impede de se instalar. Caminho em direcção ao carro e o Tejo lá está... acariciando suavemente a cidade e reflectindo as luzes que a noite acendeu. Talvez o Porto seja mais bonito, talvez tenha mais glamour e seja mais cosmopolita que Lisboa. Mas esta imaturidade, imprevisibilidade e vivência desajeitada de Lisboa fazem-na única e incomparável... Talvez o Porto possa despertar melhores emoções no futuro.
Parabéns paizinho!... eu fui ao Porto e voltei...
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Estava aqui sentada no computador, perdida a esperança de conseguir fotografar a neve que caía sobre Lisboa novamente este ano, quando mais uma vez dançando em frente à janela grandes flocos de neve rodopiavam precipitando-se sobre a rua. Mas uma fotografia muito desejada ainda está à distância de ir buscar a máquina fotográfica, colocar-lhe a lente, a bateria e o cartão de memória e às vezes essa diatância é muito grande. Pelo menos vi neve em Lisboa... mesmo que tenha derretido na água da chuva assim que tocou o chão.
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quarta-feira, janeiro 24, 2007
quando o desejo ultrapassa a possibilidade, a possibilidade reinventa-se...
"Only two things are infinite, the universe and human stupidity, and I'm not sure about the former." -Albert Einstein
"Tal como aconteceu com os telemóveis, João César das Neves prevê que exista um aumento exponencial do número de abortos, como com os telemóveis adquiridos pelos portugueses. A «liberalização» do aborto é seguida de «uma cultura abortista, em que este passa a ser uma coisa normal, como um telemóvel».
O economista denunciou ainda que, caso o aborto venha a ser despenaliza do até às dez semanas, «muitos médicos que aleguem objecção da consciência para não realizar a intervenção serão prejudicados».
Quando questionado sobre a origem destas informações, João César das Neves disse que chegou a esta conclusão «pensando» e disse recear que «os hospitais - actualmente locais de vida - , passem a ser espaços de morte»."
in Portugal Diário http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=763292
A incontinente estupidez deste senhor é assustadora...
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You give your love and friendship unconditionally. You enjoy long, thoughtful conversations rich in philosophy and spirituality. You are very loyal and intuitive.
"Os amores são como impérios: desaparecendo a idéia sobre a qual foram construídos, morrem junto com ela." Milan Kundera in A Insustentável Leveza do Ser
Gabriel o Pensador - Até Quando O contexto é diferente, mas: Até quando vai ficar sem fazer nada? (...) Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu Num quer dizer que você tenha que sofrer (...) Muda, muda essa postura Até quando você vai ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura (...) Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente Seu filho sem escola, seu velho tá sem dente Você tenta ser contente, não vê que é revoltante Você tá sem emprego e sua filha tá gestante Você se faz de surdo, não vê que é absurdo Você que é inocente foi preso em flagrante (...)
Calamos porque não o fazemos com orgulho e porque temos medo.
Mas se o fizemos: ou tínhamos dinheiro e fizemo-lo em condições (com a ajuda e os contactos dados pela amiga que já passou pelo mesmo) num país vizinho qualquer ou numa clínica clandestina que nos esvazia o corpo, a alma e a carteira ou não tinhamos dinheiro e arriscámos a vida contribuindo para um negócio clandestino que não paga impostos e faz muito dinheiro à custa da miséria alheia.
Que tal contribuirmos com os nossos impostos para resolver uma questão de saúde pública e para controlar um mercado clandestino que à margem da lei e de tantas moralidades vai crescendo?
Agora fui para Norte. Voltei na terça-feira de Leiria e entrei em Lisboa por uma porta diferente que me lançou noutra perspectiva desta cidade. Enquanto descia a Avenida Fontes Pereira de Melo senti o que é vir de cima e atravessar Lisboa inteira tendo o Tejo como obstáculo. As luzes de Natal apagadas mas ainda presentes, tristes e abandonadas, completamente esquecidas e solitárias oscilam por cima das ruas reagindo ao movimento dos carros. No dia seguinte fui fechar contas ao escritório num terceiro andar da Avenida da Liberdade com vista para o Castelo de S. Jorge e um pé-direito de três metros e meio. Pela primeira vez, embora seja uma das ruas mais poluídas de Lisboa, senti-me previlegiada por poder estar nesta cidade, naquele lugar, naquele momento. Por volta da hora de almoço enchi-me de orgulho alfacinha, desci as escadas estreitinhas e caminhei rua abaixo até aos Restauradores. Atravessei a praça e entrei no edifício dos CTT onde fica o Magnólia, os crepes de queijo de cabra, legumes, molho de framboesa e nozes que me fazem perder a cabeça e o cheesecake que me faz salivar descontroladamente. Fui ao balcão pedir o que me apetecia, mais um sumo de maçã e hortelã (sem gengibre porque sou alérgica)e sentei-me junto à janela a comer e a observar a rua ao sol e as pessoas. Sinto sempre isto quando páro num café da Baixa. As pessoas andam de maneira diferente e, como no livro do Paul Auster, há muitas que são verdadeiramente invisíveis e que aparentemente sempre ali estiveram e estarão. Lembro-me de algumas delas desde sempre e com elas recordo o cego que tocava um piano de sopro na Rua Augusta... e a senhora que caminhava da Avenida João XXI de barbatanas e óculos de mergulho... e a que vestia um sobretudo comprido por cima de uma camisola de manga curta que pouco abaixo das ancas descia e exibia orgulhosamente umas pernas perfeitas... e as pessoas que dormiam todas as noites nas escadas do Teatro Nacional e eram incomodadas pelos enormes grupos de miúdos que, enquanto a Linha de Sintra enteve em obras, ali esperavam pelos últimos autocarros alternativos para lhes transportarem os excessos para casa... Ali sentada recordei as filmagens do Wim Wenders no Éden, as manifestações contra as propinas, por Timor, contra a guerra. As histórias do Partido e dos familiares que atiravam panfletos pró-revolucionários do cimo dos prédios à revelia da PIDE de quem nem sempre conseguiam escapar. Esta cidade, que adoro e odeio ao mesmo tempo, corre-me nas veias, está-me no sangue e na alma. Subo novamente a avenida e estou em casa... como já não a sentia há muito tempo.
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quarta-feira, janeiro 10, 2007
raizes Kahlo, Frida (Raices) 1943 Oil on sheet metal 11 7/8 x 19 3/8 in. Collection of Marilyn O. Lubetkin
Hoje vim do sul luminoso para a cor cinzenta que ilumina Lisboa viajando pela América do Sul ao longo da Costa Alentejana.
Percorri a recta de Sines junto ao mar ao som de um tango da banda-sonora Frida. Já na auto-estrada a voz do Caetano surgiu inconfundível.
Estas viagens são um tónico... momentos geniais a cento e... km/h.
¶ 22:530 comments
Os dedos e o nariz congelam à beira mar, as pestanas colam-se em cada piscar de olho, a alma dói ao lembrar que o Verão ainda está tão longe e o coração acelera quando sente os dias maiores.
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terça-feira, janeiro 02, 2007
Luto Nacional
A Sic Comédia acabou. O Seinfeld acabou. O Conan O'Brien acabou. O Jay Leno acabou. O M.A.S.H. acabou. O Everybody Loves Raymond acabou. Acabaram os compactos de fim de semana... A vontade de ver televisão acabou.