aqui na lua
sexta-feira, novembro 22, 2013
  Admirável Mundo Novo
faz hoje 50 anos que morreu Aldous Huxley mas o google acha mais importante assinalar o 50º aniversário de Dr. Who. Porque é que isto não é estranho neste admirável mundo novo?
 
  um chorinho sonhado
Hoje invadiste novamente os meus sonhos...
Estava a andar de bicicleta pela cidade e descia uma rua degradada e feia. Alguém me dizia que esta cidade era pequena e sem vida, alguém que falava apenas na minha cabeça como uma voz que permanece de uma conversa recente quando essa voz nos diz algo realmente importante que ouves como “a cidade que amas afinal não é tão bonita”.
Com estas palavras na cabeça dirijo-me a um lugar antigo da cidade por entre parques e condomínios antigos numa rua que une duas colinas. Vou dar a um bairro antigo no topo da colina onde há uma vila como a tua mas com uma estrutura completamente diferente. Parece quase uma estufa com armação em ferro e longas janelas difíceis de lavar por onde entra difusa uma luz leitosa e azulada. Um emaranhado de escadas preenche o espaço vazio e no patamar abaixo do qual me encontro existem bancas de um mercado onde se vendem essencialmente roupas antigas, acessórios, jóias, livros usados. As bancas são compridas e não têm cobertura, apenas uma estrutura simples e despretensiosa.
O espaço está praticamente vazio de pessoas, muitas das bancas não têm sequer vendedores e os objectos que estão pendurados parecem suspensos no nada. Numa das bancas está uma mulher com cerca de 50 anos, cabelo comprido negro, chapéu e um vestido comprido e escuro que vende vinis em 2ª mão. Tem mãos magras e manuseia os discos com todo o cuidado mas como se dançasse com eles. Está a tocar baixinho uma música do Fela Kuti que se espalha suavemente pelo espaço.
Procuro um sítio para guardar a bicicleta mas as escadas e passagens são muito estreitas e a bicicleta impediria a passagem de pessoas.
A música acaba e enquanto a mulher não muda o disco ouço uma música diferente que vem de uma das janelas.
É uma espécie de mistura de chorinho com bossa-nova. Uma melodia rápida sobre uma base lenta, com as oscilações e quebras que a música brasileira resolve tão bem. Olho para cima e vejo uma janela aberta com um pássaro pousado olhando atentamente para o interior.
Tento descobrir a porta do prédio e entro para umas escadas de madeira ovais com parede branca e um corrimão trabalhado em ferro e madeira envernizada. Subo 2 andares com a bicicleta na mão e bato à porta onde a música já é bastante nítida.
Tu abres-me a porta vestido com umas calças de pijama às riscas azuis e brancas e uma camisola de manga comprida verde amarelada completamente debotada e esgaçada. Tens o cabelo encaracolado, mais comprido do que costume e estás mais velho, com alguns cabelos brancos e uma expressão mais cansada mas infantil. Os teus olhos são tristes mas sorriem. Olhas-me como se estivesses à minha espera ou como se a minha presença não te surpreendesse, sorris e dizes: "esta música é maravilhosa! Ouve!" e desatas a dançar contigo próprio como se fosses o teu próprio par. Os teus movimentos não são bem uma dança.. é como se o teu corpo não tivesse vontade própria e seguisse fielmente o ritmo, a melodia e as emoções do poema.
Como quem dança consigo próprio, seguras nos braços algo imaginário e muito pequenino, como se te tivesses por um fio nos teus braços e tens os olhos fechados num sorriso incrível que por vezes, porque a música revela sofrimento, se fecha num suspiro que termina num novo sorriso de puro deleite. Rodopias devagarinho sobre ti próprio, dás passos pequenos para trás e para a frente, encolhes os ombros e mexes as mãos como se tentasses agarrar a música.
E eu fico de bicicleta na mão a olhar para ti a ver-te dançar.
As tuas janelas dão para o pátio e, do outro lado, para uma rua larga com algum movimento. Os prédios do outro lado dessa rua são estranhamente majestosos e fazem-me lembrar o museu Thysen-Bornemisza em Madrid com pequenos jardins cercados em frente e passeios largos onde algumas pessoas caminham calmamente. O carros passam ao ritmo de um semáforo que se encontra perto.
E eu estou a olhar para ti e para a rua e para o pássaro que está pousado na janela que dá para o pátio e que vai inclinando a cabeça ora para um lado ora para o outro.
Estou feliz por ti e enquanto me apercebo disto o sonho vai-se dissipando e acordo devagarinho.
E pronto... Este é mais um dos vários sonhos de que te falei. São sempre assim e por vezes incluem o teu pai ou a tua mãe mas depois esqueço o que sonhei. Ficam apenas farrapos e sensações... Tenho sonhado contigo frequentemente e basicamente vejo-te a envelhecer e a pessoa que na minha imaginação te tornarás.
Deste sonho saí devagarinho e, por uns momentos, na cama era como se a realidade e o sonho se misturassem por isso recordo-o com tanta clareza.
Consigo descrever com precisão todo o edifício, as pessoas com que me cruzei nele, a música, a tua dança, os carros que passavam lá em baixo, o pássaro que pousou na janela, tudo!
Estranho, não?
Por vezes acontece-me isto e sonho muito com uma pessoa. Nunca tive oportunidade de falar destes sonhos não só por não me lembrar da maior parte mas porque nunca tive cumplicidade suficiente com os protagonistas para partilhar com eles os enredos em que os meto.

Qualquer dia começo a escrever contos baseados nas suas visitas aos meus sonhos.
 
segunda-feira, agosto 04, 2008
  o grove
o grove

passámos a fronteira em valença do minho. parámos por uns minutos no parador de tui e seguimos viagem, curva contra-curva até a guarda onde se presenciava um vendaval desfeito, ou nem por isso tão feito e inteiro que estava. consegui descer da caravana segurando a porta que o vento teimava em fechar com a muleta e mal equilibrar-me até à ponta do miradouro (o vento empurrava-me com tal força que de cada vez que levantava os pés do chão me sentia como se voasse). subimos a costa até baiona, muito aristocrática e imponente. baiona é uma cidade virada para a marina que está repleta de barcos. não parámos... tinha gente a mais e precisamente o tipo de ambiente que queremos evitar... continuámos a demanda até vigo. desta zona, as rías bajas, apenas trago com prazer na memória a natureza selvagem e agreste do mar batendo nas rochas, do vento noroeste e da montanha rochosa que lhes faz frente. "rumámos" a norte e atravessámos a ría de vigo descendo de seguida em direcção a cangas, senguindo-se bueu, marín e pontevedra onde atravessámos a ría, agora em direcção a sanxenxo. visitámos as praias de montalvo, lanzada em busca de vento e entrámos na península de o grove. esta península tem apenas uma estrada de acesso com dois sentidos e o trânsito que vimos no sentido contrário (uma fila de quase 8 km de carros para sair da península) meteu-nos a pensar na vida e decidimos encontrar um sítio para pernoitar e chegámos a san vincente do mar. aqui fala-se quase português... praia é praia e não playa, do é do e não del, da é da e por aí fora. a praia está quase vazia. comemos qualquer coisa e aqui ficámos a ver o mar e os viveiros de marisco que enchem as rías. parecem submarinos e a ría parece uma armada de saída para a guerra.
vamos dormir a pensar no caminho que nos separa de traba e laxe onde o nuno e a cristina nos aguardam.




















 
domingo, agosto 03, 2008
  moledo
moledo do minho


saímos de peniche já tarde, ontem. subimos o país pela N1 que também é IC2. na N1 está tudo á venda. armazéns, fábricas abandonadas e até contentores. os nomes das terras por onde passamos é inusitado a maior parte das vezes... a-dos-cunhados (vamos à dos cunhados - à casa? à terra? à horta? o que terá originado este nome?) trouxemil (nós trouxemos 2... parca quantia ao pé de mil...), entre tantos. na mealhada contei 16 restaurantes de leitão (zé, manel, nelson, júlio, virgílio, meta, metinha... dos leitões, claro. não havia nenhuma maria ou júlia dos leitões, porque será?).
chegámos ontem a moledo do minho e dormimos por aqui. a praia é linda e para cá chegar a estrada circula entre árvores e arbustos. o pé no ar não ajuda muito e os belos passeios de bicicleta que aqui poderia dar ficaram suspensos ontem quando passei pelo hospital de santo andré de leiria. a médica diz que não há evidências de melhoras o que quer dizer que praticamente está tudo na mesma. vou ter de continuar de muletas a ver a praia à superficie, adiar as aulas de kite e deixar a bicicleta no suporte traseiro da caravana.
moledo tem muito vento e uma paisagem maravilhosa. uma escola de surf, bons acessos, pequenos bares de apoio sem grandes mariquices, chuveiros de água doce para uso público e está limpa.
agora vamos entrar na galiza.








 
sábado, agosto 02, 2008
  baleal
1º dia de férias
peniche - baleal
subindo o país contrariando o hábito.
é difícil sentir-me de férias sem aterrar no barlavento algarvio mas acho que chegaremos a esse estado de espírito que nada espera, anseia ou teme em breve.
aqui vai um roteiro fotográfico da nossa viagem que terminará no final do mês e onde os critérios de orientação dependem, a maior parte das vezes, da orientação do vento. esta praia exemplifica na perfeição o que quero dizer. nunca aqui viria por outra razão que não a que me trouxe cá: "o vento e umas ondas fixes para o kite".
não merece mais do que esta fotografia... um urbanismo sem qualificação, feio de meter dó...

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domingo, junho 29, 2008
  músicas que não me saem da cabeça...
Esta não sai desde 4ª feira passada...

All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true...I was made for you

I climbed across the mountain tops
Swam all across the ocean blue
I crossed all the lines and I broke all the rules
But baby I broke them all for you
Because even when I was flat broke
You made me feel like a million bucks
Yeah you do and I was made for you

You see the smile that's on my mouth
Is hiding the words that don't come out
And all of my friends who think that I'm blessed
They don't know my head is a mess
No, they don't know who I really am
And they don't know what I've been through but you do
And I was made for you...


Brandi Carlile - The Story
 
  Simão
Na 4ª feira passada nasceu o meu primeiro sobrinho, filho da minha única irmã, mais nova que eu 1 ano e 8 meses.
O Simão é 7 anos e meio mais novo que o filho mais pequeno e o 4º bebé desta familia. Nunca pensei voltar a sentir-me tão próxima de um bebé mas olhar para aquele ser minúsculo (não tanto, porque nasceu com 4,415 kg) e vê-lo tão perfeito, tão miraculosamente inteiro e cheio de vida, voltou a mexer com os meus instintos mais primários de protecção e amor genuíno.
Sim... cada orelha, cada linha, cada olho, dedo, joelho, cotovelo são milagres de perfeição. Cada expressão, olhar, gesto me fazem lembrar que irá ser um homem com uma vida inteira pela frente, com experiências únicas e irrepetíveis.

Bem-vindo Simão. Que a vida te dê o melhor e que saibas aproveitá-lo com gratidão e alegria.

Bem hajas!
 
segunda-feira, maio 05, 2008
  acentos, cedilhas e outros males necessários
^~ç `´ªº que felicidade! que riqueza! cá estão todos outra vez! acabou-se a maçada! agora é à vez até não poder mais e mais não sei quê!
 
domingo, maio 04, 2008
  mayday - dia de maio
Hoje escrevo pela primeira vez no MEU mac. Depois de tantos anos a parasitar macs alheios finalmentente sou a feliz proprietaria de um. Embora o objectivo seja puramente profissional vai ser inevitavel alarga-lo a toda a minha vida informatica porque 'e o unico computador que tenho. Nao vou abandonar o linux que se ira manter a funcionar ca por casa e 'e o nosso estandarte anti capitalismo informatico.
Por falar em anticapitalismo este ano voltei ao 1o de maio, desta vez integrando o cortejo dos intermitentes, pirilampos ou precarios (como preferirem) na celebracao do "movimento mayday" que finalmente recomeca a ganhar forma em Portugal. Juntou-se um numero consideravel de pessoas e, ao contrario do que vem sendo habito nos ultimos anos, grande parte eram jovens. Jovens da minha idade, com os seus filhos e familias caminhando ao longo de quase 5 km contra a precaridade das suas vidas a saldo e a recibo verde. Os meus filhos foram comigo e caminharam desde o Rossio ate a Alameda D. Afonso Henriques (mesmo que alguma vezes me tenham questionado sobre a real utilidade de tamanho sacrificio), cantaram, gritaram e cumprimentaram com entusiasmo todos os amigos que foram encontrando pelo caminho. Confesso que fiquei feliz e orgulhosa por, depois de tantos anos de silencio, ter voltado a ver toda a gente mobilizada e comprometida com uma causa, uma causa social, uma causa nossa, finalmente interpretada com tal. O facto de se juntar a celebracao do 1o de maio e o mayday e' interessante do ponto de vista simbolico (este dia e' celebrado ancestralmente por se encontrar a quase meio caminho entre o equinocio da primavera e o solesticio de verao - tempo de fertilidade e rejuvenescimento) e traz-nos as memorias de quando a existencia parecia mais simples pondo em causa tudo o que nos foi exigido sacrificar da nossa vida em beneficio de algo que me e' impossivel compreender: nao entendo um bem maior que nao tenha em consideracao o bem individual de cada um ou vice-versa. E' reconfortante ver mais inconformados que, contra tudo e contra todos, continuam a acreditar que existe uma alternativa e que e' fundamental lutar por ela.
E que nao se deixam dormir.

Entretanto ja foi possivel perceber que o meu teclado nao e' portugues e que, por isso, os acentos que tanto enriquecem a fonetica do nosso portugues foram completa, mas temporariamente, abolidos deste blog... espero que nao tenha sido para sempre e vou tentar com muito afinco encontrar palavras alternativas nao acentudas ate conseguir recuperar todos os meus acentos.
 
domingo, abril 20, 2008
  Pete Seeger - Get up and go

o óbito do aquinalua ainda não saiu no jornal

 
  Outra vertigem
Titulo da Música: Ciclo
Artista: Caetano Veloso
Letra:


Passa o tempo e a vida passa, e eu de alma ingênua acredito
Num sonho doce, infinito, plenitude, enlevo e graça
Que sem tortura ou revolta estou cantando ao luar
Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar

Depois a estrada poeirenta, os pés sangrando em pedrouços
E apaziguando alvoroços a alma intranquila e sedenta
Murchessem todas as flores e a correnteza das horas
As trevas sobre as auroras, e os derradeiros amores

Recordo o passado inteiro e as voltas que o mundo dá
Meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá
E aquele ao léu do destino que inspirou tanto louvor
Cajueiro pequenino carregadinho de flor

Passa o tempo e eu fico mudo, ontem ainda a ciranda
Vida à toa, a trova branda agora envolvendo tudo
O vale nativo, os combros, várzea, montanha, leveza
Essa poeira de escombros de que se nutre a tristeza

Velho, recordo o menino,
que resta de mim, sei lá
Cajueiro pequenino carregadinho de flor
 
quinta-feira, outubro 18, 2007
  DIA DE SENSIBILIZAÇÃO PARA A INTERMITÊNCIA
ESTE COMUNICADO É PARA SER LIDO EM TODAS AS PRODUÇÕES NO DIA 19.

++++++++

Este comunicado que hoje está a ser lido em vários eventos culturais do país representa o sentimento geral dos profissionais das artes do espectáculo e do audiovisual.

SABIA QUE NÃO HÁ ENQUADRAMENTO JURÍDICO QUE SE ADEQUE A ESTAS PROFISSÕES?

SABIA QUE ESTES PROFISSIONAIS NÃO PODEM ESTAR DOENTES OU DESEMPREGADOS?

Hoje é o nosso dia de sensibilização para a intermitência.

Dizemos que somos intermitentes porque o nosso trabalho é sempre descontínuo e temporário.

Essa é a natureza das nossas profissões!

Trabalhamos sucessivamente de projecto em projecto, com pessoas diferentes e isso implica a mobilidade dos profissionais e permite a diversidade das produções.

Queremos ter acesso aos mesmos direitos e às condições básicas de qualquer trabalhador por conta de outrem. Como estes, somos profissionais especializados, cumprimos horários, num local de trabalho específico, sob a direcção duma entidade.

Por todas estas razões, precisamos de uma definição legal de intermitência, que nos permita pagar a segurança social de acordo com o salário que recebemos e que nos proteja de situações de carência. Precisamos de um contrato de trabalho adequado à nossa realidade.

No último ano, representantes das áreas da dança, do teatro, da música, do circo, do cinema e do audiovisual têm vindo a apresentar e a defender propostas concretas sobre esta questão.

Esperamos que este esforço resulte numa lei que nos sirva a todos.

Lembrem-se que apagadas as luzes da ribalta existe uma realidade que não pode continuar a ser ignorada.

Muito Obrigado e Bom Espectáculo!
 
quarta-feira, outubro 10, 2007
  Chico Buarque e Caetano Veloso - Tatuagem/ Esse Cara

Por causa de uma conversa com o rui no anacruses.blogspot.com fui à procura de uma versão do Sampa do Caetano Veloso mas tropecei nesta jóia.

 
quarta-feira, outubro 03, 2007
  Vanessa da Mata e Ben Harper - Boa Sorte

muito bonito o que se consegue fazer à distancia com "pessoas especiais"
muito bom também

 
sábado, setembro 29, 2007
  kortatu nicaragua sandinista

não esperava encontrar este vídeo no youtube mas são estas surpresas que me fazem lembrar que ainda há muita malta por aí... mesmo que a vida correndo nos afaste para outros lugares.

 
  podia... mas não é.
Isto anda de tal maneira que para falar só mesmo com humor. O problema é que há alturas mais abençoadas que outras e neste momento há um défice de boa disposição galhofeira para estes lados.
Este tempo intermitente de "ora faz chuva, ora faz sol" não ajuda muito e o sabor amargo de fim de Verão traz a memória dos dias curtos e escuros que passaram e passarão, mais uma vez. Por um lado, para quem não tem sistema de rega automática instalado na varanda, dá um novo ânimo à vida vegetal que do alto de um segundo andar (como é o meu caso) tentamos manter como uma amarra presa ao cunho dos tempos em que a natureza era parte indispensável da nossa vida. Por outro faz-nos andar a correr e metidos em casa olhando este choro miudinho calando o nosso que com a escuridão teima em debruçar-se nas janelas do olhar.
O Verão passou demasiado depressa este ano e pelo caminho ficaram quase todos os projectos de férias. Desta vez o caminho foi feito de improviso, ao sabor dos amigos, do sol e da música. Com a espectativa do desastre da Boca do Rio fui em busca das outras paragens da minha infância e redescobri o Zavial e Cabanas Velhas, praias que, fechando os olhos aos monstros arquitetónicos periféricos, nos deram os melhores dias deste Verão.
O banho de 29 brindou-nos com uma lua maravilhosa e um mar quente onde apetecia ficar. Pela primeira vez os miudos foram todos ao banho connosco e aqueceram-se também junto da fogueira.

Em Lisboa tudo está a mudar... devagarinho. Pressinto uma cambalhota para breve mas, lá está, falta-me o humor sarcástico para poder exprimir justamente a suspeita.
No meio das pilhas de jornais, das horas a ouvir a rádio no carro e a ver telejornais sinto-me a submergir numa impaciência que está para lá de revolta, para lá de impotência, para lá de indignação... é apenas uma agonia, um vómito inacabado, "uma vontade de chorar". Que tristeza que situação, que tristeza de cidadania, que tristeza de apatia! Somos um povo miserabilista que não tem qualquer tipo de ambição no que toca a respeito pelos direitos humanos e a dignidade social. Que vergonha sinto de vez em quando... pela ignorância, pela opção clara de não querer saber mas, principalmente, por acharmos sempre que existe alguém a resolver todos os problemas e alienarmos permanentemente qualquer responsabilidade que possamos ter sobre esta triste realidade.

Até breve... ou não.
 
sexta-feira, agosto 24, 2007
  Max Roach

“My point is that we much decolonize our minds and re-name and re-define ourselves . . . In all respects, culturally, politically, socially, we must re-define ourselves and our lives, in our own terms.”

Este vídeo está na minha lista de favoritos no Youtube à espera de ser publicado no blog. Oito dias depois ainda me parece uma excelente ocasião. Infelizmante só hoje, ao ler a Visão, me apercebi da sua morte. Infelizmente porque é um reflexo do meu alheamento presente... não porque tenha perdido algo em não ter sabido mais cedo. A sua vida é, sem dúvida, muito mais importante que a sua morte.

 
quarta-feira, agosto 22, 2007
  .
"Às vezes o espelho aumenta o valor das coisas, às vezes anula. Nem tudo o que parece valer acima do espelho resiste a si próprio refletido no espelho. As duas cidades gêmeas não são iguais, porque nada do que acontece em Valdrada é simétrico: para cada face ou gesto, há uma face ou gesto correspondido invertido ponto por ponto no espelho. As duas Valdradas vivem uma para a outra, olhando-se nos olhos continuamente, mas sem se amar."
Italo Calvino
 
quinta-feira, agosto 16, 2007
  ...férias...férias...férias...

Eu, não o aquinalua.
Eu estou de janela virada para o mar, aberta de par em par.
Passei o dia na praia com um olho nos miudos e outro no mar.
A água está fria mas eles passaram mais de metade do dia lá dentro e a outra metade a correr, a escavar, a rebolar na areia e a apanhar pedras.
A pequena lua que há pouco via lá fora já se escondeu e a noite avizinha-se escura com muitas estrelas... se os miudos ainda estivessem acordados muitas histórias se contariam, muitas perguntas ficariam no ar sem resposta porque a complexidade é cada vez maior e os meus conhecimentos de astronomia não chegam para matar a curiosidade. Na realidade os meus conhecimentos na generalidade são insuficientes a maior parte das vezes... Aprendo mais eu com eles do que eles comigo - só que eles ainda não o sabem.
Há momentos da minha infência que não me saiem da memória e, ao olhar para eles hoje, percebi que estão a viver esses momentos agora e que o primeiro dia de férias, na praia de sempre, é inesquecível. O que aprendi é que é um previlégio poder assistir a estes momentos e ficar feliz com eles.
 
segunda-feira, agosto 13, 2007
  catarses


agora percebo
porque percebo agora que carreguei muita coisa que quando larguei não deixou vazio e me libertou de um peso.
porque percebo agora que há coisas que só valem pela importância que lhes dou e na realidade não acrescentam nada à minha vida.
porque percebo agora que podemos viver nas ideias e caminhar sem rumo achando que vamos para algum lugar.
porque percebo agora que uma ilusão pode preencher mas quando acaba não deixa nada a não ser desilusão.
porque percebo agora que a palavra amor é fundamental numa relação e tem de ser dita e concretizada.
porque percebo agora, olhando para trás, que apesar da companhia estive sempre sozinha acompanhando alguém.
porque percebo agora que as pessoas só fazem parte da nossa vida se participarem da nossa vida e não se se mantiverem à porta com medo de entrar.
porque percebo agora que existiu uma pessoa na minha vida que tão pouco lhe acrescentou que, na realidade e tristemente, não me faz falta - apesar dos anos e das boas memórias.
porque percebo agora que as ideias são ideias e a realidade é a realidade...
pela centésima vez...
 
domingo, agosto 12, 2007
  viagens


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Visto assim até parece muito mas, na realidade, as manchas são muito mais pequenas porque não visitei exaustivamente nenhum destes países. Algumas cidades e pouco mais do que isso.

O plano necessáriamente adiado das minhas viagens é (há muito tempo) este:
Canadá e Alaska
México e Chile
Cabo Verde, Moçambique, Mali e Senegal
China, Vietnam, India, Tailândia e Indonésia
Nova Zelândia
Europa de Leste e Islândia
 
quarta-feira, agosto 08, 2007
  Uxu Kalhus - Erva Cidreira

ó erva cidreira
estás no telhado
quanto mais te rego
mais pendes p'ró lado
mais pendes p'ró lado
mais a rosa cheira
estás no telhado
ó erva cidreira

refrão:
toda a moça que é bonita
na maior força de amar
jura amor que eu também juro
não me andes a falsear
não me andes a falsear
meu amor agora agora
dois passos para diante
meia volta e vai-te embora

ó erva cidreira
estás na varanda
quanto mais te rego
mais pendes p'rá banda
mais pendes p'rá banda
mais a rosa cheira
estás na varanda
ó erva cidreira

(refrão)

ó erva cidreira
estás no alpendre
quanto mais te rego
mais pendes p'rá frente
mais pendes p'rá frente
mais a rosa cheira
estás no alpendre
ó erva cidreira

Vídeo por Tiago Pereira

 
  luas...
Amar é a primeira inocência,
E toda a inocência é não pensar...

Fernando Pessoa
 
segunda-feira, agosto 06, 2007
  Andanças 2007

Porque...
Porque os olhares são retribuídos sem medo
Porque as mãos se tocam sem vergonha
Porque a alegria contraria a gravidade e voamos nos braços uns dos outros
Porque é tão fácil respeitar o espaço de cada um
Porque é tão fácil viver em equilibrio com a Natureza
Porque se faz aprendendo e se conhece experimentando

O Andanças é uma lição de vida. É um espaço onde milhares de pessoas dormem, comem, bebem, dançam, tocam, tomam banho, usam as casas de banho, fumam e convivem. Neste espaço há sempre alguma coisa para aprender, alguém para conversar, algo para comer, uma casa de banho limpa, uma sombra, água, sorrisos e um chão limpo de lixos e beatas.

Há sempre alguém a trabalhar para que tudo isto aconteça e no Andanças há centenas de voluntários.

E à noite, nas tendas, nas rodas, a dançar, o par que trocamos é sempre diferente e apenas no segundo anterior sabemos que nos irá pegar na mão.
 
quinta-feira, agosto 02, 2007
  Contradições
Hoje iniciei os meus 15 dias anuais de férias de tudo. E hoje vislumbrei para 6ª feira o fim dessas férias... Perante a perspectiva de curtíssimas férias fui jantar fora com a J e nós juntaram-se a S e a T. Acabamos à porta do Maxime festejando a gravidez da M e partilhando experiências de partos com outra J... Cenas de gajas que quando finalmente lhes é permitido curtir como se não houvesse amanhã acabam à porta de um antigo bar de strip a falar dos filhos e dos orgásmicos partos que experimentaram reproduzidos e encenados com tempero a vinho tinto e vodka com maçã de Alcobaça deixando desconfiada quem se prepara para tal experiência sem suspeitar das delícias de quem recorda em oposição aos receios de quem aguarda.
Eu sei que isto dito assim parece um bocadinho herege mas aqui ninguém tem aspirações a santa ou qualquer cena do género - as dívidas estão pagas e estamos todos bem.

Sabe bem poder ser herege de vez em quando.
E sabe bem assumir que a expulsão no processo do parto é o melhor orgasmo que se pode sentir na vida se não estivermos adormecidas pelas epidurais. Sabe bem saber que toda a dor e todo o medo ficaram esquecidos numa sala de hospital. Sabe bem lembrar um ser tão pequenino, acabado de sair de dentro de nós, já com pestanas, unhas e rugas nos nós dos dedos.

Mas também sabe bem saber que por uns tempos vamos acordar sozinhas na casa em silêncio. Sabe bem sentir a noite e a lua entrar pelas janelas sem ter o alarme interno ligado à espera de ouvir "mããããeeee".

Finalmente sabe bem saber que daqui a 15 dias alguém que nos faz tanta falta que até dói nos vai entrar pela vida dentro e apoderar-se de nós apaix0nada e arrebatadoramente.

Enfim, para quem já é mãe ser mulher é também isto... e a contradição faz parte da fórmula.
 
terça-feira, julho 31, 2007
  Cássia Eller - Nós

 
segunda-feira, julho 30, 2007
  em "marcha paro"
Lisboa - Santa Susana - Alcochete - Lisboa - Almería - La Isleta del Moro - Vejer de La Frontera - Zahara de los Atunes - Vila Real de Santo António - Lisboa - Costa da Caparica.
Itinerário das últimas 6 semanas de trabalho com muitas horas extra e muitas ao volante. "Águas Mil" do fim para o início...
Quase hablo español, pero não muito!
Ainda não consigo equilibrar saudavelmente as horas de descanso com as de actividade e passo mais tempo a arrastar-me entre a cama e o sofá do que a fazer alguma coisa. Este calor também não ajuda à tomada de iniciativas - estão 40 graus em Lisboa e a casa mantém-se às escuras a maior parte do dia.
A minha vida resumiu-se mesmo às deslocações, rodagem e produção nos últimos tempos e a última coisa que me lembro de fazer por vontade e gosto pessoais foi assistir ao concerto de Dave Matthews Band no Atlântico do qual guardo uma recordação para a vida e a que só faltou "Say Goodbye" para ser perfeito. Nada de filmes, teatro, concertos ou amigos para partilhar por isso este post fica-se por aqui.
Na próxima injecção de energia volto.
 
terça-feira, abril 03, 2007
  mesmo assim...
 
segunda-feira, abril 02, 2007
  quem não trabuca não manduca...
Ao fim de quase 2 meses (que passaram num ápice) eis que regresso para receber ilustríssimos visitantes. Não como gostaria mas como é possível neste momento. Sou uma formiga arrastada na corrente da estação do trabalho que não conseguiu fintar o destino e transformar-se numa cigarra a tempo.
Em breve voltarei porque sinto muito a falta destes momentos. Até lá fiquem sabendo que leio assiduamente as notícias dos rebentos do outro lado do oceano e respectivos progenitores.
Beijos a tod@s.
 
domingo, fevereiro 11, 2007
  voltando ao que interessa


Sim.
E esta é, há 18 anos (quase desde que comecei a ser activa políticamente), uma luta que gostaria ver avançar. Pelas mulheres mais velhas que a assumiram como sua muito antes de mim e por todas as que ainda se vão tornar. A Carta dos Direitos da Mulher transcrita neste post data, por exemplo, de 1977.
Está na altura, não?
 
  Beautiful People

Beautiful people
You live in the same world as I do
But somehow I never noticed
You before today
I'm ashamed to say

Beautiful people
We share the same back door
And it isn't right
We never met before
But then
We may never meet again
If I weren't afraid you'd laugh at me
I would run and take all your hands
And I'd gather everyone together for a day
And when we're gather'd
I'll pass buttons out that say
Beautiful people
Then you'll never have to be alone
'Cause there'll always be someone
With the same button on as you
Include him in everything you do.

Beautiful people
You ride the same subway
As I do ev'ry morning
That's got to tell you something
We've got so much in common
I go the same direction that you do
So if you take care of me
Maybe I'll take care of you

Beautiful people
You look like friends of mine
And it's about time
That someone said it here and now
I make a vow that some time, somehow
I'll have a meeting
Invite ev'ryone you know
I'll pass out buttons to
The ones who come to show
Beautiful people
Never have to be alone
'Cause there'll always be someone
With the same button on as you
Include him in ev'rything you do
He may be sitting right next to you
He may be beautiful people too
And if you take care of him
Maybe I'll take care of you
And if you take care of him
Maybe I'll take care of you...

by Melanie
Copyright © 1967 by Melanie Safka. All Rights Reserved.


A realidade é que estamos cada vez mais desconfiados e indisponíveis.
Por mim falo... não me passa pela cabeça conhecer os milhares de pessoas que passam por mim todos os dias.
Quando era miuda lembro-me de recordar as caras das pessoas que partilhavam o metro comigo e de saber, quando as reencontrava, que era do metro que as conhecia.
Lembro-me de vir viver para Lisboa e ter progressivamente desabituado a cumprimentar quem passava. Ninguém respondia e, tal como em tudo o que é bom, quando não somos retribuídos desistimos.
É verdade que partilhamos hábitos e rotinas com muitas pessoas com quem não trocámos, provavelmente, mais do que um ou dois olhares. Mas o círculo de pessoas que habita o nosso universo familiar, profissional, o nosso grupo de amigos, os amigos dos nossos amigos e os dos nossos filhos é cada vez maior e, mesmo que existam outras pessoas bonitas por aí, o espaço que lhes poderíamos destinar já está provavelmente preenchido.
Por isso nos tornámos mais selectivos e apenas alguns chegam e ocupam lugar. Esses alguns que continuam a surgir são, algumas vezes, os melhores. Encontramo-los à medida que vamos amadurecendo e por isso somos mais honestos, mais sensíveis e mais exigentes. Quem consegue ultrapassar estas barreiras tem de ter muita coisa em comum connosco. Nem que seja o não ter nada.

 
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
  SIM, SIM, SIM, MIL VEZES SIM!
SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM

Planeamento Familiar
"Direito da família decidir em liberdade, quando e quantos filhos desejam"
Constituição da República. artº 67º, al. d
"- Generalização da educação sexual nos estabelecimentos de ensino.
- Criação de condições que possibilitem a divulgação e o acesso das mulheres aos meios anti-concepcionais e inclusão do receituário contraceptivo no esquema da assistência medicamentosa das instituições de previdência.
- Abolição da legislação repressiva em relação ao aborto, que deve ser encarado como último recurso face a uma gravidez não desejada.
- Divulgação nos meios de comunicação social e outros, dos perigos que o aborto acarreta para a saúde e para a mulher.
- Reconhecimento à mulher do direito ao aborto gratuito, até ao máximo do 3º mês da gestação, em boas condições clínicas e higiénicas, de modo a eliminar-se a especulação comercial do aborto clandestino e a evitar-se a elevada mortalidade materna provocada pela maioria das condições em que estes se fazem."
in Carta Dos Direitos Da Mulher
Movimento Democrático de Mulheres Portuguesas (MDM)
Julho de 1977
 
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
  beatos...

Hoje regressei de Madrid.
A minha mãe foi buscar-me ao aeroporto e de seguida fui almoçar com o meu pai.
Apesar da internet me possibilitar manter a par do que se tem dito pedi-lhe que me desse todas as novidades acerca da campanha e do referendo.
A propósito da campanha de quem se opõe à despenalização e de afirmações que têm sido feitas pelos ditos lembrei-me da famosa e indescritível (tão que não consigo reconstituir a maior parte das barbaridades) entrevista ao João César das Neves publicada no jornal Independente há uns anos.
O meu pai lembrou-se de um episódio ocorrido na Assembleia da República durante o debate sobre a legalização da interrupção voluntária da gravidez que teve como protagonista uma mulher inesquecível há quase 25 anos atrás.
Quando cheguei a casa fiz uma pesquisa na internet pelo poema, encontrei-o neste blog e fiz a sua transcrição para aqui:

"«O acto sexual é para ter filhos» - disse, com toda a boçalidade, o deputado do CDS (João Morgado) no debate anteontem sobre legalização do aborto. A resposta em poema, que ontem fez rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia.

Aqui fica:

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

Natália Correia
in Diário de Lisboa, 5 de Abril de 1982"
 
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
  prioridades
Embora nos últimos dias as ausências prolongadas consequentes das idas ao Porto e agora a Madrid não me tenham permitido escrever sobre o assunto há coisas que não me passam despercebidas... a lucidez deste senhor nunca poderia deixar de ser uma delas, assim como o assunto a que o artigo abaixo citado se refere.
A ditadura espartana da moral de pacotilha portuguesa e o oportunismo político não passam impunes enquanto houver gente inteligente a dedicar tempo a denunciá-los e a combatê-los.
Falta referir uma questão que considero fundamental neste processo. A gravidez é, infelizmente, encarada como uma coisa de mulher (embora seja resultado da busca do prazer por uma mulher e um homem em conjunto) assim como, infelizmente em demasiados casos, também o são os filhos. Em última análise a contracepção é encarada como responsabilidade das mulheres (salvo raríssimas excepções, infelizmente) tendo os homens, na sua maioria, uma atitude bastante mais displicente em relação a qualquer uma das supra-referidas...
Sem querer generalizar, claro, mas observando os exemplos dos pais da minha geração e os adultos que nos tornámos.
Porque é que, então, no caso do aborto, a decisão deixa de poder ser exclusiva da mulher e a sociedade se arroga o direito de a questionar? Em relação a tudo o resto não é importante se a mulher está ou não preparada ou deve enfrentar sózinha todas as responsabilidades que estão a ser impostas por uma civilização machista e intolerante?
As mulheres não são nem têm (obrigação) de ser perfeitas. Ninguém o é. O que acontece é que toda a propaganda, todas as modas e mesmo os movimentos auto-intitulados feministas impõem um ideal de mulher que não nos faz mais felizes mas que cada vez mais mulheres adoptam. Um ideal de super mulher difícil de manter, muito exigente e repressivo.
A afirmação das mulheres - e de qualquer ser humano - passa por aceitar e ver respeitados os seus direitos e equilibradamente distribuídas as responsabilidades. Não por ter de provar sistemáticamente que consegue fazer e acumular tudo e mais alguma coisa para merecer o respeito e consideração do resto da sociedade.
Se nos é atribuída, à priori, competência e discernimento para educar, dirigir, organizar, acomodar, cuidar e sustentar uma sociedade inteira permanecendo belas e disponíveis porque é que em relação ao aborto, e à decisão de o fazer ou não, somos consideradas incompetentes e potencialmente desequilibradas? Este paternalismo é francamente insultuoso! Assim como o é a assumpção de que qualquer mulher que engravide e decida abortar é uma libertina egoísta que só pensa no seu próprio prazer e "na sua carreira".

Enfim, obrigada:
"Doze razões
por Vital Moreira
Sou a favor da despenalização do aborto, nas condições e limites propostos no referendo, ou seja, desde que realizado por decisão da mulher, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas de gravidez. Eis uma recapitulação das minhas razões.
1.ª - O que está em causa no referendo é decidir se o aborto nessas condições deve deixar de ser crime, como é hoje, sujeito a uma pena de prisão até 3 anos (art. 140.º do Código Penal). Por isso, é francamente enganador chamar ao referendo o "referendo do aborto" ou "sobre o aborto", como muita gente diz. De facto, não se trata de saber a posição de cada um sobre o aborto (suponho que ninguém aplaude o aborto), mas sim de decidir se a mulher que não se conforma com uma gravidez indesejada, e resolve interrompê-la, deve ou não ser perseguida e julgada e punida com pena de prisão.
2.ª - Não há outro meio de deixar de punir o aborto senão despenalizando-o. Enquanto o Código Penal o considerar crime (salvas as excepções actualmente já existentes), ninguém que pratique um aborto está livre da humilhação de um julgamento e de punição penal. Quem diz que não quer ver as mulheres punidas, mas recusa a despenalização, entra numa insanável contradição. Não faz sentido manter o aborto como crime e simultaneamente defender que ele não seja punido.
3.ª - A actual lei penal só considera lícito o aborto em casos assaz excepcionais (perigo grave para vida ou saúde da mulher, doença grave ou malformação do nascituro, violação). Ao contrário do que correntemente se diz, a nossa lei não é igual à espanhola, que é bastante mais aberta do que a nossa e tem permitido uma interpretação assaz liberal, através da cláusula do "perigo para a saúde psíquica" da mulher. Por isso, a única saída entre nós é a expressa despenalização na primeira fase da gravidez, alterando o Código Penal, como sucede na generalidade dos países europeus.
4.ª - A despenalização sob condição de realização em estabelecimento de saúde autorizado (por isso não se trata de uma "liberalização", como acusam os opositores) é o único meio de pôr fim à chaga humana e social do aborto clandestino. Esta é a mais importante e decisiva razão para a defesa da despenalização. Nem a ameaça de repressão penal se mostra eficaz no combate ao aborto, nem a sua legalização faz aumentar substancialmente a sua frequência. A única coisa que se altera é que o aborto passa a ser realizado de forma segura e sem as sequelas dos abortos clandestinos mal-sucedidos. Por isso, se pode dizer que a legalização do aborto é uma questão de saúde pública.
5.ª - Se se devem combater os factores que motivam gravidezes indesejadas, é humanamente muito cruel tentar impô-las sob ameaça de julgamento e prisão. É certo que hoje há mais condições para evitar uma gravidez imprevista (contraceptivos, planeamento familiar, etc.). Mas a sociologia é o que é, mostrando como essas situações continuam a ocorrer, em todas as classes e condições sociais, mas especialmente nas classes mais desfavorecidas, entre os mais pobres e menos cultos, que acabam por ser as principais vítimas da proibição penal e do aborto clandestino (até porque não têm meios para recorrer a uma clínica no estrangeiro...).
6.ª - A despenalização do aborto até às 10 semanas é uma solução moderada e, mesmo, comparativamente "recuada", visto que em muitos países se vai até às 12 semanas. Por um lado, trata-se de um período suficiente para que a mulher se dê conta da sua gravidez e possa reflectir sobre a sua interrupção em caso de gravidez indesejada. Por outro lado, no período indicado o desenvolvimento do feto é ainda muito incipiente, faltando designadamente o sistema nervoso e o cérebro, pelo que não faz sentido falar num ser humano, muito menos numa pessoa. Como escrevia há poucos dias um conhecido sacerdote católico e professor universitário de filosofia: "A gestação é um processo contínuo até ao nascimento. Há, no entanto, alguns "marco" que não devem ser ignorados. (...) Antes da décima semana, não havendo ainda actividade neuronal, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído."
7.ª - Só a despenalização e a "desclandestinização" do aborto é que permitem decisões mais ponderadas e reflectidas, incluindo mediante aconselhamento médico e psicológico. Embora o referendo não verse sobre os procedimentos do aborto legal, nada impede e tudo aconselha que a lei venha a prever uma consulta prévia e um período de dilação da execução do aborto, como existe em alguns países. Aliás, o anúncio de tal propósito poderia ajudar o triunfo da despenalização no referendo, superando as hesitações daqueles que acham demasiado "liberal" o aborto realizado somente por decisão desacompanhada da mulher.
8.ª - A despenalização do aborto nos termos propostos não viola o direito à vida garantido na Constituição, como voltou a decidir o Tribunal Constitucional, na fiscalização preventiva do referendo. No conflito entre a protecção da vida intra-uterina e a liberdade da mulher, aquela nem sempre deve prevalecer. O feto (ainda) não é uma pessoa, muito menos às dez semanas, e só as pessoas são titulares de direitos fundamentais e, embora a vida intra-uterina mereça protecção, inclusive penal, ela pode ter de ceder perante outros valores constitucionais, nomeadamente a liberdade, a autodeterminação, o bem-estar e o desenvolvimento da personalidade da mulher. Mas a punição do aborto continua a ser a regra e a despenalização, a excepção.
9.ª - A decisão sobre a legalização ou não do aborto não pode obedecer a uma norma moral partilhada só por uma parte da sociedade. Ninguém pode impor a sua moral aos outros. É evidente que quem achar, por razões religiosas ou outras, que o aborto é um "pecado mortal" ou a violação intolerável de uma vida, não deve praticá-lo. Pode até empregar todo o proselitismo do mundo para dissuadir os outros de o praticarem. Mas não tem o direito de instrumentalizar o Estado e o direito penal para impor aos outros as suas convicções e condená-los à prisão, caso as não sigam. A despenalização do aborto não obriga ninguém a actuar contra as suas convicções; a punição penal, sim.
10.ª - A despenalização é a solução a um tempo mais liberal e mais humanista para a questão do aborto. Liberal - porque respeita a liberdade da mulher quanto à sua maternidade. Humanista - porque é o único antídoto contra as situações de miséria e de humilhação que o aborto clandestino gera. Quando vemos tantos autoproclamados liberais nas hostes do "não", isso é a prova de que o seu liberalismo se limita à esfera dos negócios e da economia, parando à porta da liberdade pessoal. Quando vemos tanta gente invocar o "direito à vida" do embrião ou do feto para combater a despenalização, ficamos a saber que para eles vale mais impor gravidezes indesejadas (e futuros filhos não queridos) do que a defesa da liberdade, da autonomia e da felicidade das pessoas. Se algo deve ser desejado, devem ser os filhos!
11.ª - Na questão da despenalização do aborto é verdadeiramente obsceno utilizar o argumento dos custos financeiros para o SNS. Primeiro, o referendo não inclui essa questão, deixando para a lei decidir sobre o financiamento dos abortos "legais". Segundo, mesmo que uma parte deles venham a ser praticados no SNS, o seu custo não deve comparar desfavoravelmente com os actuais custos da perseguição penal dos abortos, bem como das sequelas dos abortos mal sucedidos.
12.ª - A despenalização do aborto, nos termos moderados em que é proposta, será um sinal de modernização jurídica e cultural do país, colocando-nos a par dos países mais liberais e mais desenvolvidos, na Europa e fora dela (Estados Unidos incluídos). A punição penal do aborto situa-nos ao lado de um pequeno número de países mais conservadores e mais influenciados pela religião (como a Irlanda e a Polónia). Mas por que motivo um Estado laico deve pautar o seu Código Penal por normas religiosas?
(Público, Terça-feira, 23 de Janeiro de 2007)
[Publicado por vital moreira]"
 
domingo, janeiro 28, 2007
  pouca-terra, pouca-terra
26 de Janeiro

7h55 - Sta Apolónia
O meu pai faz hoje anos, 58.
Estou em Sta Apolónia com 8 bilhetes para o Porto no bolso e toda a roupa que me foi possível vestir em cima do corpo. Vamos em visita técnica à Casa da Música e, desta vez, de Alfa Pendular. Estamos todos menos quem faz mais falta mas isso já é normal... a exactamente 2 minutos da partida entra calmamente na carruagem como se nada fosse, alheio ao nervoso miudinho da produção e resto da equipa que já contava em segredo as horas que demorava o próximo comboio a chegar a Campanhã. Sento-me e preparo-me para 3 horas de viagem a caminho do Norte que começa a fazer, cada vez mais, parte dos destinos frequentes... Neste país onde o vento Norte me empurra naturalmente para o Sul é difícil enfrentar a bolina e virar costas às planícies alentejanas. Por isso vou de costas e da minha janela, durante algum tempo, observo o Tejo serpenteando e reflectindo o nascer do sol: "até já, não te demores..."
Algumas estações depois paramos em Coimbra. Estive em Coimbra no início do Verão do ano passado e a palavra História (com letra grande) pesou-me na alma. Coimbra carrega um passado com massa que é visível em cada casa, em cada porta, janela, rua... como se cada época, cada década ali tivesse alicerçado a sua alma e tivesse querido permanecer para sempre.

11h10 - Campanhã
À saída da estação enfiamo-nos em 2 taxis e dirigimo-nos para a Casa da Música (ainda me ocorre que teria sido mais fácil sair em Gaia, mas agora é tarde). Passamos pela Rotunda da Boavista que está deserta e solitária fazendo lembrar um Domingo e aproximamo-nos do local onde planeio ir desde que abriu mas que até hoje não passou disso mesmo: um desejo não concretizado. Gostaria de ter chegado para ir ver um concerto e entrar à noite para das janelas poder observar o contraste iluminado que formam a estrutura do edifício e as coloridas fachadas dos prédios antigos do outro lado da rua. Mas a vida não é um conto de fadas e a malta passa a maior parte do tempo a trabalhar para viver e a sonhar com o que gostaria de estar a fazer... por isso entro com a equipa atrás e autisticamente começamos a percorrer salas, escadas, corredores, átrios e todos os espaços onde é possível caber alguma coisa. Ensaiamos passagens, tempos e fórmulas até conseguirmos tirar meia dúzia de meias conclusões que nos vão permitir continuar a trabalhar mas que ainda não nos dão certezas algumas. Verificamos entradas, camarins, elevadores e tudo o que é necessário para colocar as pessoas e as toneladas de material que são, a cada minuto, acrescentadas à lista que neste momento é assustadoramente grande...
Porque é que as coisas que à partida parecem simples são as que, quase inevitavelmente, se tornam mais complicadas?
Saímos a tempo de uma francesinha (mas quem é que inventou esta porcaria?) e de ir novamente a correr para o comboio (porque é que não nos lembrámos de Gaia, porra?).

16h15 - Campanhã
Entramos no comboio a 3 minutos da partida e sento-me à mesa onde supostamente teremos uma reunião durante a viagem. Para trás fica a cidade que me transporta sempre numa viagem de melancolia e tristeza silenciosas porque ao Porto sempre fui em trabalho ou pelas pessoas erradas... há coisas que nos toldam a perspectiva e que condicionam a experiência que temos dos espaços. O Porto nunca foi uma boa experiência para mim: a sua profunda beleza e a pálida luz que ilumina as suas cores entristecem-me. A F... fala-me da loja de sapatos que adora e o A... das noitadas na invicta. Sítios que desconheço e dos quais nem sequer ouvi falar mas onde gostaria de ir. No dia em que for à Casa da Música ver um concerto, puder passear sem pressas na Ribeira e ir às compras de carteira cheia.
No comboio, desta vez, vou de frente enfrentando o destino de peito aberto. O Sul é a minha terra e espera-me no final da linha.
De novo Lisboa vista do Norte... é tão bonita!

19h25 - Sta Apolónia
Ponho os pés no solo. Inspiro profundamente. A poluição é imensa mas cheira à Lisboa confusa, desprojectada e cheia de contrastes que amo e odeio simultaneamente. A nostalgia sai de mim dando lugar a uma serenidade calorosa que nem o frio impede de se instalar. Caminho em direcção ao carro e o Tejo lá está... acariciando suavemente a cidade e reflectindo as luzes que a noite acendeu.
Talvez o Porto seja mais bonito, talvez tenha mais glamour e seja mais cosmopolita que Lisboa. Mas esta imaturidade, imprevisibilidade e vivência desajeitada de Lisboa fazem-na única e incomparável...
Talvez o Porto possa despertar melhores emoções no futuro.

Parabéns paizinho!... eu fui ao Porto e voltei...
 
  neve em lisboa

floco de neve

Estava aqui sentada no computador, perdida a esperança de conseguir fotografar a neve que caía sobre Lisboa novamente este ano, quando mais uma vez dançando em frente à janela grandes flocos de neve rodopiavam precipitando-se sobre a rua.
Mas uma fotografia muito desejada ainda está à distância de ir buscar a máquina fotográfica, colocar-lhe a lente, a bateria e o cartão de memória e às vezes essa diatância é muito grande.
Pelo menos vi neve em Lisboa... mesmo que tenha derretido na água da chuva assim que tocou o chão.
 
quarta-feira, janeiro 24, 2007
  quando o desejo ultrapassa a possibilidade, a possibilidade reinventa-se...

 
  Jeg går en Tur - A self portrait by Lasse Gjertsen

 
  "Only two things are infinite, the universe and human stupidity, and I'm not sure about the former." -Albert Einstein
"Tal como aconteceu com os telemóveis, João César das Neves prevê que exista um aumento exponencial do número de abortos, como com os telemóveis adquiridos pelos portugueses. A «liberalização» do aborto é seguida de «uma cultura abortista, em que este passa a ser uma coisa normal, como um telemóvel».

O economista denunciou ainda que, caso o aborto venha a ser despenaliza do até às dez semanas, «muitos médicos que aleguem objecção da consciência para não realizar a intervenção serão prejudicados».

Quando questionado sobre a origem destas informações, João César das Neves disse que chegou a esta conclusão «pensando» e disse recear que «os hospitais - actualmente locais de vida - , passem a ser espaços de morte»."

in Portugal Diário
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=763292


A incontinente estupidez deste senhor é assustadora...
 
segunda-feira, janeiro 22, 2007
  viajando pelo mundo
Amazones - Woman Drummers


Les Yeux Noirs

Vieux Farka Touré
.
acesso aos sites clickando nas imagens
 
  miles

© anton corbijn
“It's always been a gift with me, hearing music the way I do. I don't know where it comes from, it's just there and I don't question it.”
Miles Davis
 
domingo, janeiro 21, 2007
  cores... feeling blue
BLUE

You give your love and friendship unconditionally. You enjoy long, thoughtful conversations rich in philosophy and spirituality. You are very loyal and intuitive.

Find out your color at QuizMeme.com!

"Os amores são como impérios: desaparecendo a idéia sobre a qual foram construídos, morrem junto com ela."
Milan Kundera
in A Insustentável Leveza do Ser

 
sábado, janeiro 20, 2007
  referendo - pensando e adaptando

Gabriel o Pensador - Até Quando
O contexto é diferente, mas:
Até quando vai ficar sem fazer nada?
(...)
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu
Num quer dizer que você tenha que sofrer
(...)
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura
(...)
Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente
Seu filho sem escola, seu velho tá sem dente
Você tenta ser contente, não vê que é revoltante
Você tá sem emprego e sua filha tá gestante
Você se faz de surdo, não vê que é absurdo
Você que é inocente foi preso em flagrante
(...)

 
  Mulheres de Atenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam, se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram, se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas, cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam soldados, elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos, querem arrancar violentos
Carícias plenas, obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho costumam buscar o carinho
De outras felenas
Mas no fim da noite, aos pedaços, quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade, nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios, o seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas e as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem, se conformam e se recolhem
Às suas novenas, serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas...
Chico Buarque de Hollanda
 
sexta-feira, janeiro 19, 2007
  slogans...

Calamos porque não o fazemos com orgulho e porque temos medo.
Mas se o fizemos: ou tínhamos dinheiro e fizemo-lo em condições (com a ajuda e os contactos dados pela amiga que já passou pelo mesmo) num país vizinho qualquer ou numa clínica clandestina que nos esvazia o corpo, a alma e a carteira ou não tinhamos dinheiro e arriscámos a vida contribuindo para um negócio clandestino que não paga impostos e faz muito dinheiro à custa da miséria alheia.
Que tal contribuirmos com os nossos impostos para resolver uma questão de saúde pública e para controlar um mercado clandestino que à margem da lei e de tantas moralidades vai crescendo?
 
quinta-feira, janeiro 18, 2007
  um repolho travestido de alface


Agora fui para Norte.
Voltei na terça-feira de Leiria e entrei em Lisboa por uma porta diferente que me lançou noutra perspectiva desta cidade. Enquanto descia a Avenida Fontes Pereira de Melo senti o que é vir de cima e atravessar Lisboa inteira tendo o Tejo como obstáculo. As luzes de Natal apagadas mas ainda presentes, tristes e abandonadas, completamente esquecidas e solitárias oscilam por cima das ruas reagindo ao movimento dos carros.
No dia seguinte fui fechar contas ao escritório num terceiro andar da Avenida da Liberdade com vista para o Castelo de S. Jorge e um pé-direito de três metros e meio.
Pela primeira vez, embora seja uma das ruas mais poluídas de Lisboa, senti-me previlegiada por poder estar nesta cidade, naquele lugar, naquele momento.
Por volta da hora de almoço enchi-me de orgulho alfacinha, desci as escadas estreitinhas e caminhei rua abaixo até aos Restauradores. Atravessei a praça e entrei no edifício dos CTT onde fica o Magnólia, os crepes de queijo de cabra, legumes, molho de framboesa e nozes que me fazem perder a cabeça e o cheesecake que me faz salivar descontroladamente. Fui ao balcão pedir o que me apetecia, mais um sumo de maçã e hortelã (sem gengibre porque sou alérgica)e sentei-me junto à janela a comer e a observar a rua ao sol e as pessoas.
Sinto sempre isto quando páro num café da Baixa. As pessoas andam de maneira diferente e, como no livro do Paul Auster, há muitas que são verdadeiramente invisíveis e que aparentemente sempre ali estiveram e estarão. Lembro-me de algumas delas desde sempre e com elas recordo o cego que tocava um piano de sopro na Rua Augusta... e a senhora que caminhava da Avenida João XXI de barbatanas e óculos de mergulho... e a que vestia um sobretudo comprido por cima de uma camisola de manga curta que pouco abaixo das ancas descia e exibia orgulhosamente umas pernas perfeitas... e as pessoas que dormiam todas as noites nas escadas do Teatro Nacional e eram incomodadas pelos enormes grupos de miúdos que, enquanto a Linha de Sintra enteve em obras, ali esperavam pelos últimos autocarros alternativos para lhes transportarem os excessos para casa...
Ali sentada recordei as filmagens do Wim Wenders no Éden, as manifestações contra as propinas, por Timor, contra a guerra. As histórias do Partido e dos familiares que atiravam panfletos pró-revolucionários do cimo dos prédios à revelia da PIDE de quem nem sempre conseguiam escapar.
Esta cidade, que adoro e odeio ao mesmo tempo, corre-me nas veias, está-me no sangue e na alma.
Subo novamente a avenida e estou em casa... como já não a sentia há muito tempo.
 
quarta-feira, janeiro 10, 2007
  raizes

Kahlo, Frida
(Raices)
1943
Oil on sheet metal
11 7/8 x 19 3/8 in.
Collection of Marilyn O. Lubetkin


Hoje vim do sul luminoso para a cor cinzenta que ilumina Lisboa viajando pela América do Sul ao longo da Costa Alentejana.

Percorri a recta de Sines junto ao mar ao som de um tango da banda-sonora Frida. Já na auto-estrada a voz do Caetano surgiu inconfundível.

Estas viagens são um tónico... momentos geniais a cento e... km/h.
 
sexta-feira, janeiro 05, 2007
  está tanto frio...

Alexandre Valentim

Os dedos e o nariz congelam à beira mar, as pestanas colam-se em cada piscar de olho, a alma dói ao lembrar que o Verão ainda está tão longe e o coração acelera quando sente os dias maiores.
 
terça-feira, janeiro 02, 2007
  Luto Nacional

A Sic Comédia acabou.
O Seinfeld acabou.
O Conan O'Brien acabou.
O Jay Leno acabou.
O M.A.S.H. acabou.
O Everybody Loves Raymond acabou.
Acabaram os compactos de fim de semana... A vontade de ver televisão acabou.


 
domingo, dezembro 31, 2006
  Censuras....
Não encontrei nenhuma versão em vídeo não censurada desta canção por isso aqui fica a letra para lhe fazer justiça.

Cálice

Pai, afasta de mim este cálice
Pai, afasta de mim este cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor engolir a labuta?
Mesma calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira tanta força bruta

Pai, afasta de mim este cálice
Pai, afasta de mim este cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai, afasta de mim este cálice
Pai, afasta de mim este cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai, afasta de mim este cálice
Pai, afasta de mim este cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo disel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Pai, afasta de mim este cálice
Pai, afasta de mim este cálice
De vinho tinto de sangue

Composição: Chico Buarque/Gilberto Gil
 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

Chico Buarque e Gilberto Gil - Cálice (censurado)

"A música Cálice foi considerada subversiva pelos orgãos da ditadura militar, por isso mesmo sendo cantada com a letra modificada, o microfone do Chico Buarque foi desligado."

Vou colocar também a versão não censurada assim que a conseguir encontrar online.

 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

Bob Marley - Redemption Song

 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

N'Kosi Sikeleli Africa - With Miriam Makeba

 
sábado, dezembro 30, 2006
  à laia de justificação...
...bom...
Não consigo explicar bem a relação das últimas 3 entradas... uma coisa levou à outra exactamente pela ordem em que aparecem: comecei pelo George Brassens, segui para o Tom Waits e acabei em The Pogues.
Todos me lembram bebedeiras a cantar em coro pela rua de braço dado com um amigo que já não vejo há muitos anos.
Suponho que os amigos podem não ser eternos, mas as recordações têm sempre banda-sonora.
Coisas eternas ou as recordações Tinto & Whiskey.
 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

The Pogues - Dirty Old Town

 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

Tom Waits - Smuggler's Waltz / Bronx Lullabye

 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

Misogynie a part par Georges Brassens
Misogynie à part, le sage avait raison
Il y a les emmerdant's, on en trouve à foison
En foule elles se pressent
Il y a les emmerdeus's, un peu plus raffinées
Et puis, très nettement au-dessus du panier
Y a les emmerderesses
(...)

 
sexta-feira, dezembro 29, 2006
  algumas coisas eternas
Depois destas últimas entradas no Aquinalua parece-me importante esclarecer que as "algumas" coisas eternas que seleccionei são muito pessoais e têm um significado e uma importância relativos às minhas experiências em determinada altura da minha vida. São eternas pela forma como inavadiram o meu universo e como lá permaneceram. Há muitas mais que dividem protagonismo mas, por não se encontrarem disponíveis na internet e por eu não as conseguir publicar, ficarão no universo não virtual por mais algum tempo. Quando tiver tempo para me dedicar a digitalizá-las e colocá-las online poderei partilhá-las com quem as quiser ver.
Até lá aqui fica uma pequena selecção de grandes inspirações.
 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

Manu Katche solo with Jan garbarek group.

 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

Anoushka Shankar - Concert for George (2003)

 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas

Silence - Jan Garbarek,Egberto Gismonti,Charlie Haden

 
quinta-feira, dezembro 28, 2006
  claro...

 
  contagem decrescente para 2007 ou coisas eternas
Esta é especial. Não há muitas pessoas que a lembrem com tanto carinho como ao Conan ou o Marco, mas ainda hoje recordo os Olmeques, o Condor, o Esteban, o Tao e a Zia e as suas aventuras que me povoaram os sonhos durante tanto tempo.

Les mysterieuses citees d'or - Generique debut



Le 16eme siècle.
Des quatre coins de l'Europe, de gigantesques voiliers partent a la conquête du Nouveau Monde. A bord de ces navires des hommes avides de rêves, d'aventure et d'espace, a la recherche de fortune.
Qui n'a jamais rêvé de ces mondes souterrains, de ces mers lointaines peuplées de légendes ou d'une richesse soudaine qui se conquerrait au détour d'un chemin de la Cordillère des Andes ?
Qui n'a jamais souhaite voir le soleil souverain guider ses pas, au cœur du pays Inca, vers la richesse et l'histoire des Mystérieuses Cites d'Or!

Enfant du soleil
Tu parcours la terre le ciel
Cherche ton chemin
C'est ta vie, c'est ton destin

Et le jour, la nuit
Avec tes deux meilleurs amis
A bord du Grand Condor
Tu recherches les Cites d'Or

ah ah ah ah ah
Esteban, Zia, Tao les Cites d'Or
aaaah ah ah ah ah
Esteban, Zia, Tao les Cites d'Or

Tou-dou dou-dou dou
Ah ah ah
Tou-dou dou-dou dou
les Cites d'Or

Enfant du soleil
Ton destin est sans pareil
L'aventure t'appelle
N'attends pas et cours vers elle ...

aaaah ah ah ah ah
Esteban, Zia, Tao les Cites d'Or
 
Cronicas de uma nova colonia. Comentarios: aquinalua@gmail.com

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